Na China, VCs se movem das startups tech para redes de comida

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Qual o segmento da economia preferido pelos fundos de venture capital (VC)? A resposta óbvia é a indústria de tecnologia e não é difícil explicar o porquê.

Soluções baseadas em tecnologia são mais facilmente escaláveis, além de permitirem que, quando a empresa tem sucesso, as receitas cresçam em ritmo descolado dos custos.

Na China, no entanto, uma tendência curiosa pode indicar o futuro para mercados digitais maduros: o investimento em empresas focadas na “geração de experiências” para o usuário ou consumidor.

Expansão digital na China

Na China, a forte e acelerada expansão digital das duas últimas décadas parece ter atingido seu limite.

O varejo online no país, por exemplo, responde por 52% das compras dos consumidores. Para efeito de comparação, no Brasil, o e-commerce responde por apenas 10% das vendas do varejo.

No país mais digitalizado do mundo, onde até pessoas em situação de rua recebem esmolas via mobile payment, já não há tanto espaço para crescer. Ao menos em termos de aquisição de novos usuários.

A tais razões, soma-se o recente endurecimento dos agentes reguladores chineses, que há dois anos não dão refresco às startups tech. Eles exigem das startups um estrito compliance com a segurança dos dados de seus usuários e forte vigilância em caso de capitalização via fundos estrangeiros.

A era dourada das startups de tecnologia chinesa parece, por ora, superada, ainda que novas ondas de inovação e disrupção — como o crescimento do metaverso ou a abertura do mercado cripto — possam revivê-la.

Em tal cenário, as redes de baixa gastronomia e restaurantes fast food que prometem aliar preços atraentes, nutrição e uma experiência de consumo agradável tornaram-se um fenômeno em captar recursos.

Crescimento do setor de fast food na China

De acordo com o serviço financeiro Aiqicha, operado pelo Baidu, só em 2022, as redes de fast food já receberam mais de 1,3 bilhão de yuans em investimentos. Isso significa mais de 200 milhões de dólares.

A mais célere delas, a Hefu Noodle, é um legítimo unicórnio do mundo fast food, com evaluation de US$ 1,2 bilhão. Sua competidora, a Xiao Mian, ainda não atingiu valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, mas se aproxima disso.

Ainda de acordo a Aiqicha, o mercado de redes de comida rápida fora de casa cresce ao ritmo de 10% ao ano, patamar que o “maduro” mercado digital chinês não consegue mais entregar aos investidores.

O crescimento do fast food na China pode estar ligado a desdobramentos pós-Covid, em que famílias de média renda passaram a consumir mais e orientar suas compras menos a produtos físicos, como um novo celular, e mais para experiências — como levar a família para jantar em um local diferente.

Para grande parte dos observadores da China, no entanto, o evento revela uma tendência que pode se replicar mundo afora, à medida em que mais mercados atinjam sua maturidade, do ponto de vista da inclusão tecnológica.

Startups tech, para ter elevado valor, precisarão entregar inovações realmente impactantes — e, mesmo assim, após sua fase de crescimento, devem encontrar um cenário de estabilidade mais rapidamente que no passado recente.

Ao mesmo tempo, produtos e serviços focados em entregar momentos de prazer, bem-estar e conexão entre as pessoas tendem a viver sua era mais favorável.

Confira mais conteúdos de nossa coluna sobre a China. 

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Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski é fundador da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e foi head de marketing e comunicação de empresas de tecnologia da China, como Baidu e Alibaba. Zmoginski é fundador da Inovasia, consultoria especializada em organizar missões para a Ásia e colunista do portal UOL.

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