Você está preparado para ter um sócio chinês?

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Skyline da ilha de Pudong, em Xangai, centro financeiro da China: o VC chinês busca novos parceiros (Foto: Tony Jin)

A pergunta-título desta coluna de estreia no Blog do Cubo não é retórica. Há 13 anos, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e, na última década, figurou entre as cinco nações com mais investimentos diretos no país. A onda chinesa foi sentida, no Brasil, antes por meio de investimentos em setores, digamos, tradicionais, como infraestrutura, energia e produção de commodities agrícolas.

Há pelo menos cinco anos, no entanto, o capital chinês se espraia pelo setor de tecnologia brasileiro, avançando progressivamente sobre pequenas e médias startups. Grandes estrelas do cenário tech brasileiro, como a 99 e o Peixe Urbano, por exemplo, acabaram em mãos chinesas na última década. Referência em inovação financeira no Brasil, o Nubank, por exemplo, não passou incólume pela presença chinesa. Em 2008, a Tencent comprou 5% do capital da fintech brasileira.

Há, portanto, sinais claros do interesse chinês por nossas startups. Não sem motivos. Capitalizada após 4 décadas de superativ comercial com o mundo, a economia chinesa oferece dinheiro farto e juros baixos para as empresas e fundos domésticos se internacionalizarem. Você já deve ter ouvido, muitas vezes, que o Brasil é um lugar péssimo para investir, pois há burocracia, corrupção e insegurança jurídica. Bem, de fato, há muito destes três fatores citados no Brasil, mas o fato objetivo é que o Investimento Estrangeiro Direto (IED) com destino ao Brasil figura entre os mais elevados do mundo, entre US$ 60 e US$ 70 bilhões na última década (2010-2019), segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), boa parte com o carimbo vermelho e as estrelinhas amarelas da bandeira chinesa.

Deslocando-se para a posição de maior economia do mundo, posto que deve ocupar a partir de 2027, segundo projeção do Banco Mundial, e com volume total de venture capital disponível só superado pelos Estados Unidos, os engravatados chineses encontram no Brasil um oásis para seu capital. Se não, vejamos. Destino preferencial dos investimentos de Pequim, os Estados Unidos já não são mais um objetivo assim, tão querido, a despeito da resiliência e dinamismo de sua economia. A guerra comercial e as hostilidades americanas desnudadas na administração Trump plantaram não uma, mas centenas de pulgas atrás das orelhas orientais. Outro grande mercado, a India escalou um antigo conflito fronteiriço com a China ao ponto de comprometer dramaticamente os negócios entre as duas nações. Não à toa, em 2020, apps chineses como TikTok e Alipay foram banidos da nação hindu.

Por exclusão geopolítica, os destinos mais atraentes para o capital chinês estão no Sudeste Asiático, onde a Indonésia com seus 270 milhões de vidas são um mercado irresistível e a América Latina, onde repousa em berço esplêndido um gigante com 211 milhões de habitantes e a quarta maior população online do mundo, segundo dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT), de 2018.

É fato, portanto, que a onda chinesa se avolumará em direção a nossas startups, com demandas e características culturais com as quais a maior parte de nós não está habituado. Para jogar luzes sobre este processo e nos ajudar a compreender como melhor lidar com esta nova – e fascinante – realidade, que esta coluna foi criada, uma modesta vela que tenta iluminar os caminhos que nos levam ao Leste.

Compreender o novo mundo sob ascensão chinesa pode, eventualmente, parecer uma tarefa de fôlego – e é. Um ditado chinês pode nos inspirar neste caminho. Diz o pensamento que a melhor época para plantar uma árvore foi há 20 anos. E a segunda melhor época é agora. Te convido para, toda semana, compartilhar comigo esta jornada, que começa agora, o melhor momento possível.

E aí, gostou do artigo? Este é só o primeiro e já temos outros disponíveis aqui. Que tal?

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Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski é fundador da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e foi head de marketing e comunicação de empresas de tecnologia da China, como Baidu e Alibaba. Zmoginski é fundador da Inovasia, consultoria especializada em organizar missões para a Ásia e colunista do portal UOL.

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