Avenidas de crescimento: como elas estão mudando o mercado
Beyond the core. Esse termo com certeza já deve ter aparecido em alguma leitura especializada sobre negócios.
Em português, a ideia por trás dele poderia ser traduzida como “avenidas de crescimento” e nada tem a ver com mobilidade, mas com outras possibilidades de negócios.
Parte das grandes corporações já perceberam oportunidades para serem aproveitadas para além do seu core business. Ainda que não tenham relação direta com o que originalmente foram criadas.
No entanto, é a partir da relevância de fatores como o conhecimento do consumidor a respeito da marca e o público engajado que as corporações aproveitam esse fator para aumentar sua receita.
Pensando nisso, desenvolvemos este artigo para refletir sobre esse movimento, discutir o porquê de as organizações estarem diversificando o seu ramo de atuação de forma ampla e como isso pode moldar e afetar o mercado. Confira a seguir!
O que são as avenidas de crescimento? Saiba mais sobre o conceito
O conceito de avenidas de crescimento pode ser entendido quando uma companhia resolve usar sua marca, com influência e engajamento relevantes junto ao seu público-alvo, para vender outros produtos e serviços.
Geralmente, essa necessidade pode surgir a partir do investimento em Pesquisa e Desenvolvimento e, nesse contexto, em inovação.
Ao identificar a necessidade de inovar, as companhias tendem a buscar formas de se destacar frente à concorrência. E, com isso, atuar em avenidas de crescimento pode acabar sendo uma oportunidade.
Exemplo de avenida de crescimento: Sorveteria Granado Verão
Este é um caso que serve para mostrar a elasticidade de uma marca e, mais do que isso, um exemplo de avenidas de crescimento. A Granado Pharmácias, conhecida por sua linha de perfumaria, sabonetes, dentre outros artigos de beleza, lançou no início de 2024 uma sorveteria.
A iniciativa partiu dos próprios perfumes, uma vez que os sabores de sorvete são inspirados nas fragrâncias. São oito sabores diferentes, com produção artesanal, sem corantes, conservantes e com polpas de frutas frescas. Ao comprar um dos produtos, o cliente também ganha descontos em uma das fragrâncias comercializadas.
A primeira unidade, localizada em Ipanema, no Rio de Janeiro, vendeu durante dois dias mais de 600 unidades de sorvetes. Uma porta-voz da marca, em entrevista para a Exame, ressaltou que a quantidade comercializada era esperada para ser efetivamente esgotada num prazo de uma semana, superando, portanto, todas as expectativas.
Até a publicação da matéria, o volume de sorvetes vendidos tinha superado a margem de 2.500 unidades. Mais: a venda de fragrâncias no mesmo período teve uma alta de 78%, enquanto outros produtos da marca também tiveram um acréscimo de 38% de vendas.
As avenidas de crescimento podem ser consideradas formas de inovar o portfólio de produtos e serviços das corporações. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Medindo o retorno de novas avenidas de crescimento
Quando uma corporação, que já tem atuação consolidada no mercado, resolve se aventurar em outros segmentos, é natural que a maior parte de sua receita não advém dessa novidade. E o estudo da McKinsey confirma essa afirmação de certo modo.
Um total de 1.143 executivos que estavam à frente de negócios com receita superior a US$ 500 milhões ou mais participou da pesquisa, divulgada em 2015 pela McKinsey. Na ocasião, a consultoria identificou que 904 executivos pretendiam seguir investindo em produtos e serviços para além do core business nos próximos 5 anos.
O relatório identificou que, ao longo do tempo, o que se notou foram resultados modestos, obtidos a partir dos negócios considerados marginais ou fora do core business.
Ao mesmo tempo, também foi possível perceber que executivos ligados a corporações localizadas ou que atuavam em economias emergentes tiveram maiores retornos do que aquelas que se focaram exclusivamente em economias desenvolvidas.
Esse movimento pode impactar as startups?
Apesar de ser um movimento muito mais comum em grandes corporações, há quem defenda que novas avenidas de crescimento também possam ser criadas em startups.
O CEO da NewCampus, Will Fan, afirmou, em artigo publicado na Forbes, que o grande diferencial das novas frentes de negócio para as empresas de base tecnológica está em utilizar os pontos fortes existentes da startup para desenvolver oportunidades que sejam complementares ao core business.
A ideia é utilizar a expertise e conhecimento da startup a respeito de determinado mercado e público para melhorar ainda mais sua entrega core por meio das avenidas de crescimento.
Fan elencou algumas dicas para quem quer se aventurar nesse processo:
- Estabelecer uma estratégia muito bem definida para a nova avenida de crescimento.
- Gerenciar os recursos de forma cuidadosa é fundamental para não atrapalhar o desenvolvimento do core business.
- Ser ágil e flexível, adaptando os planos se necessário também é imporante para o sucesso da vertical.
Ele cita como exemplo a Amazon, que foi iniciada como livraria online e hoje se converteu em uma gigante varejista que domina diversos mercados no mundo. Derivando sua operação, inclusive, para oferecer serviços de nuvem à negócios de diferentes segmentos com a marca Amazon Web Services (AWS).
Ou seja, como sugerido por Fan, além de entender profundamente o seu mercado de atuação e as dores que resolve com sua solução, igualmente é necessário estar atento ao que há de mais recente em termos de avanços tecnológicos.
Além de, é claro, usar tais tecnologias. Dessa forma, é possível surfar na onda da nova economia e explorar, inclusive com as avenidas de crescimento, o seu mercado.
Para que a avenida de crescimento tenha sucesso, é necessário uma extensa pesquisa de mercado, apoio de especialistas e antecipação a possíveis riscos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Corporações e avenidas de crescimento
O que se nota, ao menos no mercado brasileiro, é uma tendência para que outras corporações façam suas avenidas de crescimento e explorem outros segmentos, para além do seu core business.
Além da Granado, outra companhia que decidiu se aventurar por outros mares foi a Ambev. A companhia é considerada um dos maiores grupos de fabricação de cerveja em escala global e que domina cerca de 60% do mercado brasileiro.
Em 2016, a corporação fundou a startup Zé Delivery, que atua no serviço de entregas de bebidas por meio de aplicativo. Em poucos anos, a Ambev viu uma boa aderência no serviço e, consequentemente, o crescimento de sua receita.
Apenas em 2021, passou a atender 300 cidades, realizou 61 milhões de pedidos e conseguiu mais de 4 milhões de usuários ativos somente no início de 2022. Ainda no mesmo ano, durante a Copa do Mundo, a companhia registrou mais de 55 mil pedidos por hora.
Esse exemplo também serve para mostrar que criar uma startup foi a forma encontrada pela Ambev para atuar em um mercado diferente do seu core business. Porém que, de alguma forma, beneficia o negócio principal.
O que vem de encontro com o estudo da McKinsey, o qual mostrou que, embora vantajoso, atuar para além do core business pode gerar receita, porém modesta, se comparada ao carro-chefe do negócio.
Outro exemplo que pode ser citado é o do Grupo Boticário. Considerada um dos maiores grupos de beleza do mundo, a organização anunciou sua entrada no mercado de pets, ao desenvolver produtos voltados para cães e gatos.
O mercado de pets é um nicho que tem atraído a atenção de negócios e de pessoas. Apenas em 2022, empresas do segmento faturaram R$ 41,9 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). E pode aumentar, já que 70% dos lares brasileiros possuem pets.
A estratégia de novas avenidas de crescimento é importante para a inovação e olhar de longo prazo de corporações. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Avenidas de crescimento são uma novidade? Potencial é debatido há muito tempo
Não é de hoje que especialistas avaliam o potencial que corporações têm em expandir seus segmentos de atuação para outras praças e possibilidades. O autor e especialista em estratégia Chris Zook lançou em 2004 o livro Beyond the core, em que avalia a questão.
Zook destaca a importância da inovação contínua e da capacidade de adaptação para garantir o crescimento a longo prazo e a sustentabilidade nos negócios, apontando as novas verticais como oportunidades para expansão de atuação e exploração de novos mercados. Tudo isso, claro, a partir de uma diretriz de estratégia e com análise e mitigação dos riscos envolvidos.
Como você pôde perceber, para obter êxito com novas avenidas de crescimento, é fundamental contar não só com uma extensa avaliação mercadológica, mas com operacional, investimento e especialistas. Isso ajuda a entender qual a melhor maneira de iniciar esse tipo de estratégia e ir além do core business de forma bem direcionada.
Faz parte de uma corporação em busca de iniciativas de inovação? Conheça os benefícios do Cubo para Corporates!