Nova economia: conceito, características e oportunidades
Os avanços tecnológicos geram mudanças globais. O mundo está em fase de adaptação ao que chamamos de nova economia, transformando a maneira como as empresas e indivíduos atuam e produzem.
Neste novo momento, a gestão e os modelos de negócio devem se mobilizar para atender às necessidades dos consumidores e se adaptar em função da evolução da tecnologia. Isso implica não apenas produzir e gerar novos produtos, mas também pensar no impacto dos negócios na sociedade a partir de um olhar mais consciente, envolvendo toda a cadeia produtiva e demais stakeholders.
Neste artigo, explicaremos o conceito de nova economia, seus princípios e como ela tem revolucionado o mercado. Confira a seguir.
Nova economia: o que é
O termo nova economia apareceu pela primeira vez na revista Time, em maio de 1983. O jornalista Charles P. Alexander cunhou o conceito no artigo The New Economy, no qual observa as mudanças na lógica de produção causadas pela tecnologia.
No texto, P. Alexander analisa como essa transformação impactou a geração de empregos, como se obtém lucros e a ampliação de mercados globais. De acordo com o artigo, "enquanto indústrias tradicionais estão sofrendo com a competição estrangeira, empresas de alta tecnologia em ascensão estão liderando o mundo em inovação".
O jornalista usa como exemplo de nova economia as mudanças ocorridas em um complexo de prédios em Maynard, Massachusetts, nos Estados Unidos. Na década de 1850, o local sediou uma fábrica de cobertores militares que funcionou durante as duas Guerras Mundiais. O tempo passou e, quase um século depois, em 1980, os mesmos imóveis começaram a abrigar uma série de escritórios onde trabalham engenheiros da Digital Equipment Corp., a segunda maior fabricante de computadores do mundo na época.
Para ele, os altos salários pagos aos engenheiros comparados aos ganhos dos trabalhadores de 1850 demonstram o quanto a tecnologia ganhou valor e transformou o trabalho ao longo dos anos. Nesse sentido, outro destaque é a globalização, que permite que empresas de tecnologia desenvolvam produtos e serviços que são utilizados e distribuídos em diferentes países.
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A nova economia tem como base a tecnologia e impacta cada vez mais os mercados. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Princípios da nova economia
A nova economia gera uma alteração importante na forma como organizações atuam. Além de desenvolver um olhar centrado em tecnologia e implementá-la nas operações, seja no core business ou no aprimoramento de produtos e processos, as empresas devem buscar entender como a hiperconexão impacta o negócio, além de priorizar a inovação.
Nesse contexto, os modelos de negócios passam a adotar ferramentas para automatizar processos e personalizar produtos, centralizados nas demandas dos consumidores, criando uma experiência voltada para o usuário. Em um mercado muito mais acelerado e competitivo, as empresas passam a ouvir diferentes públicos, baseando-se muito mais na adaptação e entrega de produtos e serviços para solucionar problemas do que simplesmente lançar novos produtos para o consumo.
De acordo com Diego Barreto, VP de Finanças e Estratégia do iFood e autor do livro Nova Economia — Entenda por que o perfil empreendedor está engolindo o empresário tradicional brasileiro, há três pilares essenciais das mudanças:
- Primeiramente, destaca-se o desenvolvimento de tecnologia proprietária, ou seja, não se trata apenas de importar tecnologia de outros países. Há um forte foco na construção e desenvolvimento interno de tecnologia no próprio país, caracterizando-a como proprietária.
- O segundo ponto revela mudança radical na forma como as pessoas conduzem a gestão corporativa. Isso ocorre devido ao impacto significativo dessas tecnologias proprietárias na maneira como os negócios são administrados, que deve ser muito mais ágil e adaptável.
- E, por fim, o terceiro elemento é o impacto substancial na produtividade. Atividades que antes demandavam um recurso de dez unidades, agora são realizadas com apenas uma, resultando em uma redução de custos e tornando-as muito mais acessíveis.
"A nova economia é marcada por mudanças rápidas e contrastes acentuados, em que os modelos de negócios se baseiam na experiência de seus clientes para personalizar soluções. Ela impulsiona a transformação digital e a relação comercial entre marcas e consumidores. Além disso, as corporações buscam transformar produtos em serviços, utilizar novas tecnologias e ganhar maior escalabilidade, assim como nas startups", afirma Barreto.
A nova economia é centralizada nas necessidades de usuários. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Evolução da nova economia
Ao longo dos anos, o conceito de nova economia ganhou projeção e relevância. Segundo o VP de Finanças e Estratégia do iFood, por ser um país de grande dimensão, o Brasil está em fase de adaptação, mas atento às mudanças.
Segundo ele, a nova economia pode ser definida como "um momento na história de um país em que existe uma múltipla convergência de tecnologias, no modelo de negócio de empresas, gerando um efeito transformacional muito grande, não só nas empresas, mas também na sociedade, no Estado e nas pessoas".
Barreto defende a necessidade de falar sobre a nova economia para que as mudanças ocorram de forma mais ampla. Um dos nomes que ele indica como referência é a economista e pesquisadora anglo-venezuelana Carlota Pérez que definiu as diferentes fases de transformação econômica ao longo da história.
Segundo sua teoria, os ciclos econômicos na nova economia são amplamente influenciados pelas revoluções tecnológicas e passam por fases distintas de transformação. Conheça as principais fases na evolução econômica:
Fase de instalação
A etapa é caracterizada por uma rápida inovação tecnológica e pela introdução de novas infraestruturas e tecnologias. Durante essa fase, há uma grande euforia em torno das novas descobertas e invenções, o que leva a um "boom" inicial. No entanto, também existem bolhas especulativas e volatilidade financeira. As tecnologias emergentes ainda estão sendo aprimoradas e adaptadas aos modelos de negócios existentes.
"Na primeira Revolução Industrial, as pessoas não compravam roupa. Elas faziam sua própria roupa. Então, um dia alguém cria uma máquina, capaz de produzir roupas e reduzir o preço de custo de um produto. A sociedade começa a comprar as peças. A produção aumenta e a Inglaterra começa a exportar. A burguesia começa a ganhar muito dinheiro e questiona o poder político da classe nobre. Neste exemplo, é possível ver como a convergência tecnológica gera uma mudança transformacional", exemplifica Diego Barreto.
Fase de maturação ou de desdobramento
Após a fase inicial de instalação, a economia entra em um período de estabilidade e crescimento sustentado. Nesta fase, as tecnologias estão mais maduras, os modelos de negócios estão estabelecidos e a sociedade começa a se adaptar e aproveitar plenamente os benefícios das inovações.
Agora, registra-se um crescimento econômico significativo, com a criação de novos mercados, mudanças estruturais na forma como a economia é organizada e um período prolongado de prosperidade.
Períodos de crise e reestruturação
Carlota Pérez enfatiza que essas fases são cíclicas, intercalando períodos de crise e reestruturação. A instabilidade é necessária para uma próxima onda de inovação e desenvolvimento econômico. A pesquisadora identificou cinco revoluções tecnológicas principais ao longo da história moderna, cada uma desencadeando essas fases de transformação.
Essas fases descritas por Carlota Pérez ajudam a explicar como as inovações tecnológicas não apenas impulsionam mudanças nos modelos de negócios, mas também influenciam a dinâmica econômica e social ao longo do tempo.
"De um dia para o outro, surgem novas empresas com tecnologias que colocam em xeque as empresas que até então dominavam aquele segmento. O capital financeiro é atraído, financia essa transformação e, via de regra, você encontra uma bolha nesse meio do caminho. Essa bolha, quando explode, tira de cena aqueles que estavam fazendo de forma não produtiva. Quem produz de forma mais inteligente e ágil segue no mercado. Esses vencedores começam um processo transformacional econômico. Com essa mudança, vêm as mudanças regulatórias, na sequência, as mudanças de Estado, e, em seguida, ocorrem as mudanças sociais", resume Barreto.
Características da nova economia
Já sabemos que a produção se torna centralizada em demandas dos usuários. Porém, suas características vão muito além disso. Peter Liesch, especialista em negócios internacionais da Escola de Negócios da Universidade de Queensland, na Austrália, afirma que os novos padrões de produção provocam mudanças na natureza dos negócios. Além disso, a alta geração de novos mercados garantem mais oportunidades para as empresas.
Um dos exemplos destacados por Diego Barreto é o da IBM. A empresa fundada em 1911 conseguiu gerar novos produtos e serviços ao longo dos anos, focando a inovação. Com isso, abarcou mercados e permanece relevante e em crescimento em sua área de atuação.
Confira as características da nova economia, segundo Peter Liesch:
1. Possibilidades de produção mais amplas
As possibilidades de produção são muito mais amplas, abrangendo inclusive diferentes lugares do mundo. Hoje há a opção de terceirização. Além de ser mais viável reformular um negócio para atender novos mercados, a informação disponível hoje permite que as organizações sejam globais, atendendo a necessidades específicas.
2. Criação de novos mercados
A inovação e a testagem ajudam empresas a entenderem e criarem novos mercados. Mesmo com pouco investimento, empreendedores têm mais chance de desenvolverem novas soluções.
3. Chance para pequenas empresas
A nova economia permite que mesmo as pequenas empresas atuem no mercado internacional. A tecnologia quebrou barreiras e garantiu competitividade para empreendedores criativos.
4. Mercado mais equitativo
O acesso à inovação e tecnologia facilitam que empresas de qualquer lugar do mundo se tornem competitivas. Há mais oportunidades para mentes criativas e inteligentes.
5. Redes de contato
Com a comunicação facilitada pela tecnologia, ecossistemas podem ser mais sustentáveis e colaborativos. Hubs de inovação, eventos e espaços de troca permitem mais networking e um trabalho mais colaborativo e escalonável.
6. Cultura não é restrição
Ambientes de diversidade intercultural são mais inovadores e promissores. Assim, mesmo que haja diferenças, as chances de criação e oportunidade de crescimento são maiores quando há uma gestão intercultural.
7. Foco na regionalização
Mesmo que a globalização tenha sido essencial para a nova economia, os mercados regionais são o ponto forte neste cenário. As conexões regionais fortalecem ecossistemas, garantindo um ambiente mais rico para os negócios.
A startup que opta por produzir de forma mais inteligente e ágil segue no mercado. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Modelos de negócios na nova economia
A nova economia e a transformação digital facilitaram a criação de novos modelos de negócio. Ao contrário do que anos atrás, em que modelos eram lineares, hoje, o olhar mais atento às oportunidades e demandas garantiu maior flexibilidade. Conheça alguns dos modelos:
Sociais ou de impacto
Negócios cujo propósito é gerar mudanças em uma comunidade. Essas empresas geram soluções para diferentes públicos, com foco em atender necessidades e garantir melhoria na qualidade de vida das pessoas, além de impactos positivos.
Criativos
Criam e colocam no mercado soluções inovadoras e disruptivas. Atuam com bens intangíveis, como direitos autorais, entretenimento, entre outros. Esse modelo de negócio equilibra propósito com lucros financeiros.
Escaláveis
São as startups e empresas com alto potencial de crescimento exponencial. Esse modelo de negócio gera lucros a partir da escalabilidade e adaptação ágil.
Inovadores e intraempreendedores
Modelos de negócio que incentivam e praticam o empreendedorismo corporativo. Ou seja, criam áreas de inovação e metodologias de gestão para que colaboradores possam desenvolver soluções inovadoras, gerando novos produtos e serviços.
Oportunidades e desafios da nova economia
A nova economia oferece uma série de oportunidades que podem ser exploradas por empresas, empreendedores e profissionais.
- Economia colaborativa e compartilhada: tecnologia e plataformas de compartilhamento e colaboração oferecem oportunidades para compartilhar recursos, como armazenamento em nuvem.
- Digitalização de processos e automatização: a transformação digital aumenta a eficiência e evita erros, reduzindo custos operacionais para as empresas.
- Personalização e experiência do usuário: a capacidade de coletar e analisar dados permite personalizar produtos, serviços e experiências para atender às necessidades e preferências individuais de usuários.
- Empreendedorismo e startups: o ambiente da nova economia oferece espaço para novas ideias, incentivando o surgimento e conexão com startups para a inovação.
- Economia do conhecimento e educação online: plataformas de aprendizagem online e economia do conhecimento ajudam a disseminar conhecimento e habilidades, acelerando o desenvolvimento das pessoas.
- Sustentabilidade e responsabilidade social: a preocupação crescente com questões ambientais e sociais cria oportunidades para negócios que se alinham com práticas sustentáveis e responsáveis.
"As oportunidades na nova economia residem na capacidade de redesenhar métodos estabelecidos, permitindo diferenciação e mudanças substanciais. Por exemplo, antigamente, a vida econômica de um professor era restrita aos horários fixos de trabalho. Agora, plataformas como a Hotmart possibilitam embalar conhecimento e talento, ampliando o alcance globalmente. Isso permite que enquanto ministra aulas, seu conteúdo seja consumido em qualquer momento", demonstra Diego Barreto.
A nova economia oferece oportunidades para construir de maneira inovadora, desenvolvendo diferenciais competitivos. No entanto, também apresenta desafios.
- Evolução tecnológica ágil e ininterrupta: mesmo que garanta novas oportunidades, a evolução tecnológica exige adaptação rápida e constante por parte das empresas para acompanhar as mudanças e permanecerem competitivas.
- Segurança e privacidade de dados: a tecnologia também demanda um olhar atento para a segurança e proteção dos dados.
- Desigualdade digital e acesso universal: apesar de a tecnologia ter alcançado novos mercados, ainda há uma lacuna digital em algumas regiões do Brasil e do mundo.
- Ética e regulação tecnológica: debates e regulamentações que tratem de algumas questões éticas a respeito do uso de tecnologias emergentes.
- Sustentabilidade ambiental: mesmo com otimização de recursos, o crescimento econômico apresenta um desafio, gerando a necessidade de reduzir a pegada de carbono e promover a gestão responsável dos recursos naturais.
- Mudanças nas expectativas dos consumidores: apesar de as informações e o contato com usuários ser facilitada pelas tecnologias, as expectativas dos consumidores estão em constante mudança. Isso exige que as empresas se adaptem rapidamente para atender às demandas.
Para Barreto, o principal desafio é a competição. “Seguindo o mesmo exemplo, seria difícil para o diretor de uma escola avaliar outras opções de professores. Agora, o cenário mudou. Com acesso a múltiplas opções online, o diretor pode observar 50 professores em uma plataforma como a Hotmart e perceber novas perspectivas. Ele pode identificar talentos próximos à sua região e considerar trazê-los para elevar a qualidade da sua escola", exemplifica.
A nova economia apresenta dinâmicas que podem ser desafiadoras, mas contribuem com a evolução e competitividade dos negócios. Receba conteúdos sobre tecnologia diretamente em sua caixa de entrada, inscreva-se na newsletter do Cubo!