China e EUA: guerra dos chips define papéis no ecossistema global de inovação
“A China vai dominar o mundo”. Quem nunca disse (ou ouviu) esta frase em uma conversa com os amigos ou em alguma reunião de trabalho?
Bem, a afirmação pode ser um tanto exagerada, mas é difícil escapar dessa reflexão, ao menos como hipótese, ao observar o crescimento acelerado que a economia chinesa teve nas últimas 4 décadas e a rápida internacionalização de suas corporações, que compram ativos em todos os continentes.
Por ora, no entanto, o bastão de dono do mundo está em mãos norte-americanas e, como pode-se ver com clareza, os Estados Unidos estão fazendo todos os esforços possíveis para não entregá-lo em mãos chinesas.
Se não podem competir com a eficiência do parque industrial chinês e sua força comercial, os norte-americanos (ainda) detém a prevalência no desenvolvimento de bens de alta tecnologia e jogam suas fichas em bloquear a ascensão chinesa nessa área.
Panorama da "guerra dos chips"
A batalha mais estratégica nesta luta dá-se, no momento, pelo controle sobre a cadeia de produção de chips e semicondutores.
Várias das tecnologias necessárias para transformar uma placa de silício em um processador são dominadas exclusivamente por empresas ocidentais, não necessariamente norte-americanas.
Domínio da produção de chips e semicondutores é disputado pelos dois países.
A líder mundial na produção de “impressoras” de chips, por exemplo, é uma companhia holandesa, a ADSL, que é pressionada dia sim, outro também, para não exportar suas joias tecnológicas para a China.
Grandes pesquisadoras norte-americanas do segmento, como Intel, AMD, Nvidia e Qualcomm estão proibidas, por lei, de colaborar com projetos chineses. Se o fizerem, além de encarar multas bilionárias, correm o risco de ter seus executivos presos.
Trata-se de algo como asfixiar seu adversário. Sem chips com arquitetura avançada – e em volume abundante – não é possível avançar nos projetos de inteligência artificial, carros autônomos, construção de redes 5G, projetos de cidades inteligentes, enfim, não é possível tornar-se um líder da economia global.
Note que os Estados Unidos não agiram só na direção de boicotar a China. Em um raro consenso entre Democratas e Republicanos, a administração Biden aprovou o Act of Science que prevê investimentos parcialmente públicos de mais de US$ 50 bilhões para projetos de inovação em chips.
Ou seja, além de retirar combustível da China, os Estados Unidos querem pisar no próprio acelerador.
Os Estados Unidos estão acelerando o desenvolvimento de sua indústria de chips.
A resposta chinesa: investimento
Como tudo na vida, o pacote de maldades norte-americano pode dar certo. Ou errado. Uma das consequências do bloqueio à compra de chips, é que a China tem investido progressivamente mais nesta área.
Companhias locais, como a Shanghai Micro Eletronics, têm feito avanços fabulosos na confecção de chips avançados com tecnologia made in China.
Uma hipótese provável para o fim desta história é que a ação norte-americana atrase o desenvolvimento chinês, mas não o bloqueie totalmente.
De forma que o maior ou menor sucesso da China ou dos Estados Unidos na “guerra dos chips”, como o tema vem sendo tratado pela imprensa dos dois países, terá papel decisivo para definir, afinal, de que parte do mundo virão as próximas ondas de inovação.