Como acelerar a descarbonização do agronegócio?

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Estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) revelam que o efeito estufa pode afetar diretamente a temperatura do planeta. 

O desenvolvimento de ações e práticas com foco na redução e remoção do dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa (GEE) tem se intensificado nos diversos segmentos da economia para combater esses impactos. 

A chamada descarbonização é hoje uma das soluções mais factíveis para controlar os efeitos negativos da industrialização e do desmatamento. E um dos setores que têm mergulhado nesse movimento é o agro, que tem um papel importante no controle da emissão de GEE.

Há uma série de fatores que contribuem para o avanço da agenda no segmento. Confira algumas dessas oportunidades a seguir:

1. Gestão de fornecedores

A gestão de fornecedores exerce função crucial na jornada de governança ambiental, social e corporativa (ESG) das companhias. 

De acordo com a McKinsey, uma maior frequência de eventos climáticos pode criar grandes disrupções na cadeia de fornecimento, afetando a produção e os resultados das empresas.

A cadeia de fornecimento pode, ainda, concentrar boa parte das emissões de gases de efeito estufa, mas, além dos riscos climáticos, ela pode gerar outros impactos de ESG, podendo expor as companhias a problemas sociais, o desmatamento ilegal e os riscos climáticos.

O desafio reside no engajamento e na gestão de fornecedores diretos e indiretos de acordo com critérios de ESG.

Inclusive, essa pode ser uma grande fonte de descarbonização e de aumento da resiliência climática de uma organização, pois é capaz de mitigar a exposição ao desmatamento ilegal.

mão com dedo em cima de símbolo de árvore e circulo com ícones de sustentabilidadeA gestão de fornecedores deve levar em consideração os critérios ESG. Imagem: Freepik

Entre as oportunidades estão o uso de processos específicos para engajamento, monitoramento e gestão de fornecedores, a adoção de práticas de rastreabilidade de fornecedores diretos e indiretos e o uso de ferramentas geoespaciais. 

Outra oportunidade relevante emerge do potencial de integração de ESG em pequenas e médias empresas.

A existência de bases de dados com informações sobre o risco de ESG em fornecedores também pode oferecer ganhos significativos para o setor, considerando o grande volume de fornecedores diretos e indiretos a serem geridos por boa parte das companhias.

2. Uso de combustíveis renováveis e eficiência energética

A utilização de combustíveis renováveis no maquinário agrícola pode gerar oportunidades de redução das emissões para a economia como um todo, e o agronegócio não é uma exceção.

O uso de combustíveis fósseis como o diesel e outros derivados do petróleo ainda é predominante no maquinário do setor, além de nos transportes, o que pode contribuir com as emissões de escopo 3.

Entre as oportunidades para o setor estão os biocombustíveis e a eletrificação dos processos.

3. Geração de créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais

A adoção de processos mais eficientes e a redução do desmatamento podem diminuir, evitar ou remover emissões de GEE, gerando créditos de carbono que podem ser comercializados.

As atividades agropecuárias têm grande potencial de geração de créditos de carbono, os quais podem representar uma oportunidade para diferenciar companhias que adotam práticas mais eficientes.

plantação crescendo no soloO potencial de geração de créditos de carbono é uma oportunidade a ser explorada pelo agronegócio. 

De acordo com a McKinsey, o Brasil concentra 15% do potencial global de captura de carbono, e esse mercado pode atingir US$ 50 bilhões em 2030.

As principais fontes de geração de crédito de carbono na agropecuária incluem:

  • fixação de carbono no solo – de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o potencial de captura de carbono pelo solo pode chegar a 8,6 bilhões de toneladas de equivalência em dióxido de carbono (CO2e) por ano.

    Aproveitar todo o potencial de captura de carbono no solo pode exigir a adoção de práticas como o plantio de espécies com raízes mais profundas ou de sistemas agroflorestais e com rotação de culturas, bem como da adição de materiais orgânicos.

    Além da captura de carbono, esse tipo de prática pode contribuir com melhorias na qualidade do solo.

  • desmatamento evitado – a manutenção da floresta em pé e a redução do desmatamento também podem contribuir com a geração de créditos de carbono, particularmente considerando que, em determinados contextos, manter a floresta em pé tem adicionalidade por exigir uma proteção adequada contra eventuais pressões por desmatamento.

  • reflorestamento – a implementação do reflorestamento em larga escala pode contribuir não apenas com a remoção de carbono pelas espécies plantadas como também com a garantia de serviços ecossistêmicos, como regulação do microclima e proteção da biodiversidade.

    O IPCC estima o potencial de remoção de CO2e por reflorestamento entre 0,5 bilhão e 10 bilhões de toneladas de CO2e. O Brasil tem condições privilegiadas, de acordo com a McKinsey, já que 80% do potencial de geração de créditos de carbono no país estão concentrados em projetos de restauração de áreas degradadas.

Outras fontes de remoção de emissões e geração de créditos de carbono no agro podem incluir eficiência energética, bioenergia com captura de carbono (BECCS), conversão florestal evitada (REDD) e, no caso do setor de biocombustíveis, geração de créditos de descarbonização (CBIOs) no programa RenovaBio.

O processo de geração de créditos de carbono no agro pode ter custos significativos, e a garantia da integridade é de extrema relevância, tendo em vista a importância de se garantir créditos de alta qualidade com adequada gestão de riscos sociais e ambientais, além de mecanismos robustos para a negociação e a aposentadoria dos créditos.

4. Muito além do “ambiental”, atuando no “S” e no “G”

Apesar da relevância de focar a transição climática e os riscos associados, princípios importantes de uma transição climática justa passam pela atuação nos pilares social e de governança.

aperto de mãosAs questões sociais e de governança também são fundamentais para a transição climática. Imagem: Freepik

Entre as premissas básicas do Acordo de Paris e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável está a importância de “não deixar ninguém para trás”. Quando consideramos o pilar social, esse princípio passa necessariamente por diversidade e inclusão.

De acordo com a Harvard Business Review, a diversidade pode melhorar de forma significativa a performance das empresas, gerando mudanças culturais e atraindo novos talentos. Companhias mais diversas tendem a apresentar maior lucratividade e resiliência quando comparadas com outras menos diversas.

O Bank for International Settlements (BIS) destaca a relevância da diversidade na descarbonização, apontando que companhias com maior diversidade de gênero apresentaram maior redução nas emissões e maiores compromissos climáticos do que aquelas com menor diversidade.

Para além da diversidade de conhecimentos e perspectivas, crucial para uma discussão complexa e transdisciplinar como as mudanças climáticas, é importante ressaltar que são as mulheres que podem estar mais expostas às consequências das mudanças climáticas.

O grande desafio é atuar nas diferentes formas de diversidade, além de formar e capacitar profissionais e lideranças para atuar em uma economia alinhada aos objetivos climáticos globais.

5. Novos instrumentos financeiros

Novos instrumentos financeiros com foco em ESG, como green bonds, sustainability linked bonds e Cédula de Produto Rural (CPR) Verde, podem beneficiar produtores rurais e companhias agrícolas mais alinhadas à transição para uma economia de baixo carbono. 

O mercado de green bonds, sozinho, pode movimentar até R$ 700 bilhões na agricultura nacional, de acordo com a Climate Bonds Initiative.

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