Smart Agriculture: como a tecnologia favorece a sustentabilidade

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O agronegócio está cada vez mais desenvolvido no Brasil. Com o crescimento e a previsão de safras recordes, o setor também está em constante evolução no uso de tecnologias.

Em paralelo ao aumento da produtividade, conceitos como smart agriculture ou agricultura inteligente fazem parte da agenda do setor como uma das saídas para a preservação ambiental e um agro mais sustentável. 

Beatriz Domeniconi, especialista em ESG Agribusiness no Itaú BBA, conversou com o Cubo sobre as expectativas para o uso de tecnologia no setor e como a smart agriculture traz impactos positivos. "Falar de agricultura inteligente é falar de ganho de eficiência. Termos como smart agriculture e agricultura de precisão — que não são sinônimos, mas traduzem as inovações no campo — trazem mais eficiência e produtividade em todos os segmentos do agro", explica a especialista. 

De acordo com Domeniconi, as tecnologias vêm sendo estudadas por universidades brasileiras e órgãos como a Embrapa há algumas décadas. O que acontece agora é a possibilidade de conexão entre diferentes soluções, que provocam mudanças importantes em termos de sustentabilidade.  


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Agricultura de precisão ajuda a controlar a aplicação de agrotóxicos (GettyImages/Reprodução)

"O que é novo hoje é a possibilidade de conectar as tecnologias, em escala e com um custo mais acessível ao produtor rural. Isso garante uma capacidade de gestão muito maior de todos os fatores de produção e comercialização. Permite uma tomada de decisão mais ágil e precisa, um direcionamento de investimentos mais adequados às características de produção. Além de gerar um diagnóstico da área de produção mais assertivo para um tratamento mais eficaz", completa.

Todas essas práticas ajudam a garantir um ganho de produtividade, como vemos atualmente no agro. Em 2022, por exemplo, a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas deve alcançar 261,9 milhões de toneladas. A estimativa é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Monitoramento e uso de defensivos 

Como é capaz de dar um diagnóstico mais preciso sobre as necessidades produtivas, a smart agriculture contribui ainda para um melhor uso de insumos. Entre eles, estão os defensivos agrícolas, cujo controle é necessário para evitar danos à saúde de trabalhadores, consumidores, ao solo, lençol freático, fauna e flora. 

"O uso de qualquer insumo na agricultura sempre impacta custo de produção e, consequentemente, na rentabilidade do sistema. As tecnologias auxiliam no processo de gestão mais eficiente dos recursos. Importante dizer que o uso excessivo de qualquer insumo nunca é o que o produtor deseja, pois isso representa custo", explica a especialista. Segundo ela, há tecnologias que permitem aplicação precisa desses insumos. 

"Algumas delas fazem uma leitura da área e um direcionamento do maquinário agrícola para a liberação desses produtos no campo. Dessa forma, a tecnologia consegue compreender e analisar onde o insumo será aplicado e onde não é necessário. Todas essas tecnologias têm muito a contribuir com o uso racional dos insumos para uma aplicação mais correta e, consequentemente, com ganhos ambientais e econômicos do ponto de vista do produtor rural", afirma.

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Preservação de florestas e desmatamento

Dentro da agricultura inteligente, a possibilidade de monitorar florestas é um ganho para a proteção ambiental. "Houve uma mudança importante nesse sentido nos últimos anos. Hoje é possível que empresas monitorem florestas e essas informações são democratizadas, o que ajuda no controle da área de preservação. Antes, o acesso era mais restrito, sendo permitido, em geral, a órgãos públicos ou institutos de tecnologia", explica a especialista. 

Agora, as empresas podem checar as características das áreas onde estão adquirindo suas matérias-primas por meio de imagens de satélite. "Esse tipo de tecnologia auxilia no controle do desmatamento não só pela transparência nas informações, mas também para direcionar a estratégia de uso da terra. A tecnologia ajuda a prever, por exemplo, que uma área a ser aberta não é adequada para agricultura, assim, não faz sentido desmatá-la", completa. 

Segundo Domeniconi, a smart agriculture consegue fazer uma análise prévia do solo e identificar se a área é mais sensível ou se a topografia é adequada para determinado tipo de cultura. Outras informações relevantes são referentes à recuperação de áreas degradadas. Essas soluções já vêm sendo utilizadas por empresas que investem em áreas para reflorestamento ou para recomposição da mata nativa para o mercado de carbono ou para geração de biomassa. 

"A tecnologia ajuda a analisar quais áreas degradadas que vão responder melhor a um projeto de restauração, seja pelo tipo de clima, solo, temperatura e outras características. Resumindo, hoje é possível olhar o campo de forma mais tecnológica que traz mais informações. A estratégia como um todo tem um impacto positivo na redução do desmatamento e no reflorestamento mais inteligente", completa a especialista.

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Uso do solo é otimizado com a smart agriculture (Fonte: GettyImages/Reprodução)

ESG e agricultura

Para Domeniconi, a pauta de Environmental, social and corporate governance (ESG) na agricultura contribui para tornar os negócios mais rentáveis, produtivos e sustentáveis. As startups têm um campo fértil a explorar em serviços para o agronegócio como um todo, em toda a cadeia produtiva. Dentro do ESG, as empresas precisam ainda sistematizar informações para serem acessadas e monitoradas de diferentes formas.

No agro, o "E" da sigla está bem coberto, com indicadores climáticos, produtivos e ambientais que permitem uma gestão dos critérios ambientais no campo. O setor rural ainda precisa evoluir muito mais em tecnologias para monitorar práticas sociais e trabalhistas

"O monitoramento remoto em massa hoje é praticamente impossível, precisa ir ao campo checar, ainda assim, não é de fato eficiente. Indo para outras áreas, como a pecuária, também é necessário evoluir no monitoramento de práticas de bem-estar animal. Como o consumidor ou o investidor vai saber se o produtor adota boas práticas? Ainda é preciso que o setor de tecnologia avance em trazer ideias e soluções que ampliem o monitoramento sem a necessidade de ir ao campo checar", afirma a especialista. 

Para ela, as startups precisam olhar para soluções que tragam melhor acompanhamento da governança, com mais transparência, e nas práticas sociais dentro do agronegócio: "Há um universo a ser explorado e que tem muito a crescer". 

Desafios da agricultura inteligente

Alguns desafios ainda precisam ser superados quando se fala da inserção de tecnologia no campo. "Entre os pequenos e médios produtores, por exemplo, a maior carência não é, necessariamente, o acesso à tecnologia, mas o acesso à assistência técnica de qualidade. O valor das tecnologias está na sua correta aplicação. Sem orientação técnica de qualidade para adequação das tecnologias às diferentes realidades do campo, os produtores podem acabar se frustrando e não alcançando os resultados esperados”, explica Domeniconi. 

Ficou interessado em saber mais sobre uso de tecnologia no campo? Acompanhe o blog do Cubo e leia mais sobre este e outros setores.

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