Não é segredo que o Brasil é um país de dimensões continentais, sendo o quinto maior em extensão do planeta, com mais de 8 milhões de km². Mas se engana quem pensa que as terras brasileiras se resumem apenas aos contornos que vemos no mapa.
O Brasil conta também com um gigantesco território marítimo, com jurisdição sobre uma área de, aproximadamente, 5,7 milhões de km², o que representa cerca de dois terços de toda a sua massa terrestre. E, em função da relevância estratégica desse espaço, a Marinha do Brasil passou a denominá-lo "Amazônia Azul", buscando promover a conscientização dos brasileiros sobre a importância desse território.
Nesse contexto, surge um conceito importante, a economia azul, que foi tema de meetup promovido pelo Cubo e seus mantenedores Wilson Sons, Porto do Açu, Hidrovias do Brasil e Itaú Unibanco.
Thauan Santos, professor adjunto do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (PPGEM/EGN) e Viviane Borges Campos, coordenadora de ESG do Porto do Açu; debateram o assunto com Jana Brito e Filipe Guimarães, do Cubo Itaú.
Entenda a seguir o que significa o conceito de economia azul e como ele impacta as agendas do setor Marítimo e Portuário!
A economia azul abrange as questões ambientais e o desenvolvimento sustentável da economia do mar. (fonte: GettyImages/Reprodução)
O que é economia azul?
De maneira geral, economia azul diz respeito a uma série de ideias e iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentável da chamada "economia do mar". Esta, por sua vez, engloba inúmeros setores econômicos ligados direta ou indiretamente aos oceanos, como a pesca e aquicultura, construção e reparo naval, geração de energia e mineração offshore, pesquisa e desenvolvimento, biotecnologia marinha, turismo costeiro e marítimo, entre outros.
Segundo Thauan Santos, esse termo surgiu pela primeira vez em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) no contexto da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que foi realizada no Rio de Janeiro em 2012.
Desde então, o tema vem sendo bastante discutido por diversos órgãos públicos e privados de diferentes países — e, por isso, não há uma definição única sobre ele. "Nos últimos anos, esse debate cresceu de forma exponencial", destaca Santos.
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Ainda segundo Santos, essa agenda é bastante recente no Brasil, quando comparada com os Estados Unidos e Europa, em que já está mais consolidada. "A economia azul é responsável por um novo pensar a respeito da economia do mar ao redor do mundo. É preciso promover uma cooperação internacional, com trocas de conhecimentos e ideias em prol dessa agenda", pondera o professor.
Em todo o mundo, os portos têm um potencial enorme de contribuir para a descarbonização de toda a cadeia produtiva. (Fonte: Freepik/Reprodução)
Qual o papel do setor Marítimo & Portuário na economia azul?
O setor Marítimo & Portuário tem um papel fundamental no processo de implementação da agenda ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês) na economia do mar. Isso porque, de acordo com o relatório The Ocean Economy in 2030, publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o setor é o terceiro que mais movimenta essa economia, ficando atrás apenas dos setores de petróleo e gás e do turismo costeiro e marítimo. Juntas, essas áreas representaram 73% de todo o valor agregado pela indústria ligada aos oceanos em 2010.
Além disso, segundo dados da Marinha do Brasil, 95% da produção destinada ao comércio exterior do país é escoada pelas rotas marítimas. Sobre essa questão, Santos reforça "o setor Marítimo & Portuário viabiliza o funcionamento de uma série de setores da economia azul e da economia como um todo".
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Um exemplo disso são os green ports, ou portos verdes, que têm exercido um papel importante na agenda de descarbonização das economias, visto que os portos são elementos-chave na redução da pegada de carbono do transporte marítimo.
Para Viviane Borges, o setor portuário tem um potencial enorme para impactar toda a cadeia produtiva da indústria. Ela destaca que "os portos podem ser hubs de descarbonização e produção de energia de fontes renováveis para todo o mundo". A coordenadora de ESG acrescenta ainda que a inovação é um dos pilares da sustentabilidade, e é essencial para essa agenda.
Filipe Guimarães destaca a relevância das startups nesse processo. "As startups dão a velocidade que precisamos para chegar nesses resultados que esperamos", considera. Para Jana Brito, a inovação deve ser pensada de forma ampla. Ela alerta "precisamos pensar em inovação para a sociedade, para resolver um problema, uma dor, e não em inovação pela inovação. Isso não é suficiente".
Os convidados ressaltaram ainda a falta de informações, métricas e indicadores como uma das principais dificuldades para a evolução da economia azul. (Fonte: Cubo/Reprodução)
Quais são os desafios para a agenda ESG do setor?
Entre os maiores desafios e dificuldades para implementar as práticas da economia azul no setor Marítimo & Portuário, estão a falta de informações consolidadas sobre o tema e, principalmente, a necessidade de desenvolvimento de métricas precisas para avaliar o impacto das ações.
"Quando não há métricas robustas, é muito difícil visualizar o que pode ser melhorado. Esse diagnóstico vem a partir das métricas, que são o primeiro passo para ganhar eficiência e otimizar todo o processo", reflete Brito. Ela acrescenta "a falta de métricas traz insegurança não só social, mas também para as empresas que querem contribuir para essas ações".
Além disso, na visão de Thauan Santos, há ainda o problema da falta de compreensão de todas as questões sociais que envolvem a economia azul, como o desafio da fome, das más condições de trabalho e da institucionalização de políticas públicas. O professor reflete "em relação à Agenda 2030, a economia azul está envolvida em muito mais do que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14, que trata da vida marinha em si, mas também alcança os ODS 1, 2, 8 e 17, por exemplo".
E, no Brasil, esse debate todo tem muito a evoluir. "Ainda não temos nem todos os indicadores para mensurar o ODS 14, e já estamos na metade dessa agenda. Como vamos saber o quanto avançamos e o que ainda precisamos fazer se não temos nem os indicadores?", questiona Santos.
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No entanto, o professor reforça que a sua fala não busca colocar um tom de pessimismo, mas de urgência e oportunidade. Ele destaca "nós temos um mar de oportunidades, muita coisa acontecendo. E, com as empresas começando a se inserir nessa pauta por meio do ESG, entramos em um novo momento para essa agenda, inclusive com grande potencial de investimento".
Borges faz coro a esse pensamento "são muitos desafios, mas que fomentam diversas oportunidades. Esse momento demanda a ação de vários setores e instâncias da sociedade, para que possamos fazer as entregas que o mundo espera", reflete a coordenadora de ESG do Porto do Açu.
Para continuar acompanhando as principais tendências e inovações da área de ESG, fique de olho no blog do Cubo!
Fontes: Marinha do Brasil, OCDE, Rio+20, InfraFM, ONU Brasil