Ainda na esteira dos debates levantados pela COP27, Conferência do Clima da ONU realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, em novembro deste ano, o hub ESG do Cubo sediou mais um painel para discutir a agenda de ESG e Net Zero na indústria, desta vez para o setor de energia.
O meetup contou com a participação de especialistas de peso do setor de energia, como Flavia Heller, da Eneva, Francisco Maciel, da Mezzegra Green Energy, Dominic Schmal, da EDP Brasil, e Lincoln Morales, do Grupo Enel, com a mediação de Marcelo Sa, Head of Strategy and Latam Utilities do Itaú BBA.
Durante o bate-papo, os painelistas falaram sobre o saldo da COP27, os próximos passos para a descarbonização do setor de energia e a importância de não deixar de lado os aspectos sociais e de governança nesse processo.
Acompanhe este artigo para ficar por dentro dos principais tópicos discutidos no evento!
Qual foi o impacto da COP27?
Alguns dias após o fim da COP27, a Conferência do Clima da ONU que dividiu opiniões, a sua real contribuição para ajudar a frear as mudanças climáticas em todo o mundo já vem sendo discutida.
Isso porque, apesar de toda a expectativa de que as metas para a redução das emissões de gases do efeito estufa estabelecidas no Acordo de Paris, em 2015, fossem aumentadas, esse assunto teve pouco destaque no evento.
“A COP27 não teve a mesma relevância de Glasgow”, comenta Lincoln Morales, Head of CSV and Sustainability Projects no Grupo Enel, a respeito da COP26, realizada em 2021 em Glasgow, na Escócia.
Naquele ano, foi dado o primeiro passo em direção à regulamentação do mercado internacional de créditos de carbono, algo muito esperado desde o Acordo de Paris.
Em Sharm el-Sheikh, no Egito, no entanto, as negociações a esse respeito não tiveram avanços significativos.
“Pensando em ambição, esse resultado foi muito limitado”, complementa Morales.
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Apesar disso, há uma boa notícia: em decisão histórica, a COP27 aprovou a criação de um fundo de reparação financeira destinado aos países mais afetados pelas mudanças climáticas, chamado de fundo de Perdas e Danos.
A ideia é que os países já desenvolvidos, maiores responsáveis pela emissão histórica de gases do efeito estufa, arquem com parte do prejuízo causado por eventos climáticos extremos (como ciclones e enchentes) nos países mais vulneráveis.
A relação de quais países participarão desse fundo e os detalhes operacionais dessa iniciativa só serão discutidos na próxima COP, mas a mera aprovação da criação desse fundo já é vista como uma grande vitória em direção à justiça climática, destaca Dominic Schmal, ESG Director na EDP Brasil.
Sobre isso, Lincoln Morales reflete: “Os mais impactados pelas mudanças climáticas não estão recebendo os benefícios da transição energética. O desenvolvimento sustentável passa por uma questão social”.
Os especialistas discutiram sobre o saldo da COP27, os desafios para a descarbonização e a importância das questões sociais.
Qual o papel do setor de energia?
Quando se trata da agenda Net Zero, ou seja, a eliminação das emissões líquidas de gases do efeito estufa (GEE), especialmente o carbono, até 2050, a indústria energética exerce uma grande responsabilidade.
Segundo a agência internacional Climate Watch, esse setor é responsável por 73% das emissões de GEE no mundo. “Os vilões do mundo estão aqui”, comenta Dominic Schmal.
O ponto positivo é que, apesar de o problema das emissões de gases poluentes ter sido pouco discutido na COP27, a indústria energética já vem pensando sobre o tema há bastante tempo, e as maiores empresas da área sediadas no Brasil já têm iniciativas nesse sentido.
“A gente sempre fala de transição de energia independentemente da COP. O setor de energia já tem convicção do caminho”, pontua Dominic.
Nesse cenário, destaca-se também a importância de manter as florestas de pé, já que elas são um dos principais sumidouros naturais de carbono da atmosfera.
Como lembra Flavia Heller, Head of Investor Relations na Eneva, o maior ofensor das emissões de carbono do Brasil é o desmatamento.
Sobre isso, ela comenta: “O crédito de carbono é um incentivo muito necessário para o combate ao desmatamento”.
Quais os desafios atuais da indústria energética?
De acordo com a Agência Internacional de Energia, 30% do que é preciso para o mundo se descarbonizar vêm de tecnologias já existentes. “O que falta é efeito de escala, subsídios e comercialização”, reflete Dominic Schmal.
Para alcançar esse objetivo, os painelistas destacaram que o primeiro passo é aderir às metas baseadas na ciência. Dominic frisa: “Não somos nós que temos que dizer quanto temos que reduzir de emissões, é a ciência climática”.
"O crédito de carbono é um incentivo muito necessário para o combate ao desmatamento", destaca Flavia Heller.
Depois disso, vem o desafio dos custos e da tecnologia necessária para implementar novas soluções de energia limpa.
Mas, ainda que a passos lentos, o mercado traz um alento. “O que nos anima é que hoje existe um grande investimento para baratear tecnologias inovadoras, como o hidrogênio e a captura de carbono”, afirma Flavia Heller.
No entanto, para atingir a meta Net Zero, é preciso olhar muito além da produção de energia, como também para toda a sua cadeia de transmissão e distribuição. Dominic ressalta: “Temos que olhar do muro para fora, começando por engajar e capacitar os fornecedores”
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Por fim, os painelistas falaram também sobre os sistemas isolados e a importância de desenvolver projetos de energia limpa nessas áreas, já que cerca de 97% dos sistemas não conectados acabam tendo suas demandas supridas pelos combustíveis fósseis, grandes emissões dos gases de efeito estufa.
“Não é só entregar energia verde, mas entregar energia verde onde ainda não existe desenvolvimento tecnológico”, destaca Francisco Maciel, Partner da Mezzegra Green Energy.
Para ele, é preciso pensar em segurança e em pobreza energética. “Não significa simplesmente ter energia, mas ter energia com qualidade suficiente para proporcionar desenvolvimento de baixas emissões”, complementa.
E, para saber mais sobre as principais tendências e inovações da área de ESG, continue acompanhando o blog do Cubo!
Fonte: Agência Pública, Valor Investe