Investimento chinês em startups brasileiras registra recorde
O Conselho Empresarial Brasil-China publicou, no final de agosto, seu levantamento anual dos investimentos chineses no país, relativos a 2021. Os números levantados apontam que o volume de capital chinês no Brasil cresceu três vezes, em relação ao ano de 2020.
Ao todo, US$ 5,9 bilhões foram investidos, no país, por empresas e fundos chineses. O volume representa 4,8% de todo o investimento que a nação asiática realizou no exterior e coloca o Brasil atrás apenas dos Estados Unidos (14%), Austrália (7,8%) e Reino Unido 7,4%).
Um dos números mais interessantes para nosso ecossistema são os aportes realizados em startups e fintechs nacionais. No período avaliado, a Tencent elevou sua participação no Nubank e realizou investimentos em diversos negócios nacionais, como a startup Quinto Andar e as fintechs Cora, Omie e Frete.
No mesmo período, a Ant Group realizou a aquisição da plataforma de fidelidade e moedas digitais Dotz. O fundo MSA Capital investiu, ainda, nas empresas iniciantes brasileiras Cayena e Favo
Naturalmente, a maior parte do fluxo financeiro ainda se concentra em setores de energia e mobilidade. O grupo State Grid comprou, em 2020, a Companhia de Energia do Rio Grande do Sul e a montadora Great Wall adquiriu operações fabris da Mercedes-Benz no Brasil.
Segundo o relatório, o setor de petróleo foi o que atraiu mais recursos chineses, que assinaram parcerias para prospecção de óleo e gás na Baía de Santos, litoral paulista.
Embora os investimentos chineses no setor tech nacional tenham sido os maiores já realizados, a economia brasileira já recebeu um volume maior de capital asiático no passado. O ápice de entrada de recursos chineses no país ocorreu em 2010, quando mais de 13 bilhões foram aportados por aqui.
A presença de capital estrangeiro e – em particular – chinês na cena tech brasileira é sempre alvo de controvérsia. Analistas mais conservadores vêem “perigo” no avanço deste novo parceiro sobre as jóias digitais brasileiras.
De fato, se mal feitos, os negócios podem ser ruins para o Brasil a longo prazo, delegando a agentes estrangeiros a responsabilidade pelo desenvolvimento de novas tecnologias a serem aplicadas no mercado doméstico.
Como qualquer outro país – a exemplo dos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, que estão à nossa frente em volume de dinheiro chinês captado – o Brasil deve ter seu próprio plano para fomentar seu ecossistema digital. Em outras palavras: usar o capital chinês para se desenvolver.
Se não tivermos nossa própria estratégia, não há nacionalismo que salve nossa indústria digital.