Deep techs: o que são, importância e impacto

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A tecnologia de ponta nunca avançou tão rápido. Nesse cenário, uma vertente de startups tem chamado cada vez mais atenção: as deep techs. Essas empresas, de base científica, demandam pesquisa intensiva, investimentos robustos e visão de longo prazo.

Há um movimento global de desenvolvimento em relação às deep techs. Na Europa, elas receberam 44% de todo o investimento em tecnologia em 2023, segundo a McKinsey. Já na América Latina, a expectativa é que os investimentos aumentem vinte vezes na próxima década, conforme o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Quais são os desafios e as oportunidades para as deep techs na região? Confira a seguir um panorama detalhado:

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O que são deep techs?

Deep techs são empresas baseadas em avanços científicos e inovações tecnológicas com alto potencial de impacto. Elas envolvem riscos tecnológicos substanciais, demandando um processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) intenso para entender se a tecnologia funcionará em larga escala.

As soluções, por sua vez, possuem potencial para disruptar indústrias e endereçar grandes problemas contemporâneos. Entre as tecnologias desenvolvidas destacam-se a inteligência artificial (IA) avançada, computação quântica e hardwares.

Seu ciclo de desenvolvimento é mais longo do que o das startups digitais, já que está ancorado na pesquisa científica e engenharia avançada, além de envolver mais custos. 

O sócio da Emerge, Lucas Delgado, explica que a necessidade de soluções para desafios globais tem impulsionado o fomento ao desenvolvimento das deep techs

“Problemas como segurança alimentar, mudanças climáticas, novas terapias e outros desafios de grande impacto exigem abordagens inovadoras que só podem ser resolvidas por meio de soluções baseadas em ciência. Estes são problemas que transcendem fronteiras e têm enorme valor de mercado”, destaca Delgado.

Qual a diferença entre deep techs e startups digitais?

Em linhas gerais, as startups digitais exploram oportunidades de mercado com modelos de negócio inovadores. Por outro lado, as deep techs são mais focadas em avanços tecnológicos disruptivos, então exigem investimentos elevados, longos ciclos de desenvolvimento e uma infraestrutura robusta.

E enquanto startups digitais conseguem testar e validar rapidamente suas soluções, deep techs precisam passar por fases rigorosas de pesquisa, desenvolvimento e certificação antes de atingir o mercado. Confira as diferenças:

 

Startups tradicionais

Deep techs

Base de inovação

Modelo de negócio e experiência do usuário

Avanços científicos e tecnológicos

Tempo de desenvolvimento

Curto, validação rápida

Longo, envolvimento acadêmico

Investimento

Moderado

Elevado, necessidade de P&D e subsídios

Escalabilidade

Rápida e digital

Depende de testes e validações

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Quais são as características das deep techs?

Inovação científica e tecnológica

Deep techs não apenas utilizam tecnologia, mas desenvolvem avanços científicos que podem revolucionar indústrias inteiras. Elas surgem de pesquisas em universidades, institutos e centros de inovação, aplicando conceitos como inteligência artificial, nanotecnologia e biotecnologia para criar soluções inéditas e disruptivas.

Longo ciclo de desenvolvimento

Ao contrário das startups tradicionais, que podem testar e validar rapidamente seus produtos, deep techs passam por processos longos e complexos de pesquisa e desenvolvimento. Muitas vezes, levam anos até que suas soluções estejam prontas para o mercado, devido a regulamentações, testes científicos e desafios técnicos.

Alto risco e alto retorno

Investir em deep techs significa assumir riscos elevados, já que o sucesso dessas startups depende de avanços científicos imprevisíveis. No entanto, quando bem-sucedidas, elas podem gerar retornos financeiros exponenciais, além de impactos significativos em setores estratégicos, como saúde, energia e agronegócio.

Interdisciplinaridade

As deep techs unem conhecimentos de diferentes áreas, como engenharia, biologia, física e ciência da computação. Isso permite a criação de soluções inovadoras e complexas, que exigem equipes altamente especializadas e colaborações entre especialistas de diversas disciplinas.

Quais são as áreas de atuação das deep techs?

Confira algumas das principais áreas que concentram a atuação de deep techs:

Biotecnologia

A biotecnologia é uma das áreas que mais tem avançado nos últimos anos. Ela utiliza organismos vivos ou sistemas biológicos para criar soluções inovadoras em diversas áreas, como saúde, agricultura e meio ambiente. 

Desde tratamentos médicos mais eficazes até soluções sustentáveis para a produção de alimentos, a biotecnologia é um setor que concentra um amplo número de soluções de deep techs.

Inteligência artificial

Ela já faz parte do nosso cotidiano, mas seu verdadeiro impacto está apenas começando. A IA envolve o desenvolvimento de sistemas que podem aprender e tomar decisões de forma autônoma, a partir de grandes volumes de dados. 

As deep techs têm impactado o desenvolvimento de Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), modelos de IA multi-habilidades, algoritmos avançados de recomendação e agentes autônomos, por exemplo. 

Nanotecnologia

A nanotecnologia permite manipular a matéria em uma escala muito pequena, o que abre possibilidades para criar novos materiais com propriedades extraordinárias, de chips mais eficientes a medicamentos direcionados de maneira precisa.

Com isso, ela tem o poder de transformar áreas como saúde, eletrônicos e materiais de construção. O que antes parecia ficção científica, hoje já está em desenvolvimento.

Robótica

A robótica está revolucionando a forma como muitas indústrias operam. Robôs são capazes de realizar tarefas repetitivas e de alta precisão, tornando processos mais rápidos e seguros. 

Além disso, a robótica está mudando a medicina, a logística e até a educação, com novos modelos de interação entre máquinas e seres humanos.

Materiais avançados

Os materiais avançados são aqueles que possuem propriedades excepcionais, como maior resistência, leveza ou condutividade. Eles são fundamentais para a inovação em diversas áreas, incluindo construção, eletrônicos e até transporte. 

A criação desses novos materiais pode resultar em produtos mais eficientes e sustentáveis, além de abrir portas para novas possibilidades tecnológicas que antes eram impensáveis.

Computação quântica

A computação quântica é um dos avanços mais impressionantes das deep techs: ela utiliza as leis da física quântica para realizar cálculos muito mais rápidos e complexos do que os computadores tradicionais. 

Isso pode acelerar inovações em áreas como simulação molecular, otimização de processos industriais e até na criação de novos medicamentos. Embora ainda esteja em estágios iniciais, a promessa é grande.

O ecossistema das deep techs no Brasil

De acordo com o relatório Deep Techs Brasil 2024 da Emerge, feito em parceria com o Cubo Itaú, existem 875 deep techs no país. 

A combinação de desafios locais, um mercado crescente e o aumento do investimento em tecnologia tem impulsionado o desenvolvimento de soluções disruptivas em diversas áreas.

Ainda enfrentamos desafios, como a falta de infraestrutura em algumas regiões e o acesso limitado a recursos em comparação com países como os EUA e China, mas estamos dando passos importantes.

Setores com maior concentração de deep techs no Brasil

O crescimento de hubs de inovação e o aumento das parcerias entre startups, universidades e grandes empresas são fatores-chave para acelerar o desenvolvimento das deep techs brasileiras.

E quando levamos em consideração o fomento à pesquisa no Brasil em biodiversidade e sustentabilidade, o resultado não poderia ser outro: os setores de saúde e agronegócio saem na frente quando o assunto é deep techs. São 42% na área de biotecnologia e 50% na área de saúde ou agronegócio.

Onde estão as deep techs no Brasil?

As deep techs estão se espalhando por várias localizações do Brasil, com polos de inovação emergindo em diversos estados. O destaque fica para São Paulo, com 55,2% do total, sendo que 67% delas estão na região sudeste.

Exemplos de deep techs

A IBBX, startup que faz parte do Cubo Itaú, desenvolveu uma solução inovadora que captura energia desperdiçada no ambiente, como a radiação emitida por motores, lâmpadas e telas, e converte essa energia em eletricidade para alimentar dispositivos.

Já a Cogtive, membro do Cubo, possui uma tecnologia que aprimora a eficiência operacional em indústrias de manufatura por meio da gestão da produção com IA e gêmeos digitais. No último ano, a startup captou uma rodada de R$10 MM com a Indicator Capital, fundo que também faz parte da comunidade.

os desafios das deeptechs

Quais são os desafios das deep techs?

Apesar de promissoras e com um potencial transformador, as deep techs enfrentam desafios específicos que podem impactar seu desenvolvimento e crescimento. O maior deles, e o foco de 70% das startups, é provar a viabilidade de sua tecnologia.

Entender esses obstáculos é essencial para quem está imerso no ecossistema de inovação ou para quem deseja investir no setor:

1. Complexidade no desenvolvimento tecnológico

Uma das características mais marcantes das deep techs é a alta complexidade dos seus desenvolvimentos tecnológicos. As deep techs brasileiras demoram mais de 5 anos para iniciarem seu crescimento.

O processo de construção da solução requer um trabalho profundo de engenharia, ciência, grandes experimentos, protótipos e testes, o que pode levar anos de refinamento.

Para Delgado, há também um ponto importante em relação à originação das empresas

“O surgimento de deep techs de alta qualidade depende de um ambiente que favoreça a pesquisa científica aplicada à inovação. Isso inclui políticas públicas de longo prazo, bem estruturadas, e com metas claras para a ciência, tecnologia e inovação (CT&I)”, sinaliza. 

A aproximação entre o ambiente acadêmico e o mercado é outro aspecto relevante para ele: “outro fator crítico é a desconexão entre as universidades e o mercado, a falta de capacitação empreendedora para cientistas, os obstáculos burocráticos para a criação de spin-offs acadêmicos e a lentidão na concessão de patentes, que retardam a inovação”.

2. Falta de capital especializado

O sócio da Emerge ressalta ainda que no que tange à tração um dos principais desafios é a falta de capital de risco especializado, que compreenda a dinâmica de investimento em deep techs e esteja disposto a financiar esse tipo de iniciativa na América Latina. 

“Muitas das gestoras de capital de risco locais não têm familiaridade com a natureza das deep techs, o que dificulta a avaliação do risco e a adaptação das métricas de avaliação. Por outro lado, as gestoras internacionais, especialmente dos EUA e Europa, ainda são avessas ao risco de investir em deep techs na região, o que dificulta a atração de investimentos”, explica Delgado. 

O resultado é uma escassez de recursos e dificuldades para escalar as empresas inovadoras da região, uma vez que essas tecnologias envolvem inovação de ponta, e muitas vezes a necessidade de recursos para criar protótipos, realizar testes em laboratório e validá-los é alta.

3. Tempo prolongado para comercialização

Outro desafio é o tempo necessário para que a tecnologia seja efetivamente comercializada. Como estamos falando de inovações científicas complexas, que muitas vezes precisam de validação extensiva em campos como saúde, biotecnologia ou até mesmo computação quântica, o tempo de adoção pelo mercado é consideravelmente longo.

Além disso, o desenvolvimento de um produto ou solução viável e escalável muitas vezes envolve várias fases de testes, certificações e aprovações regulatórias, o que pode levar ainda mais tempo.

4. Gestão de propriedade intelectual (PI)

As deep techs frequentemente trabalham com inovações tecnológicas disruptivas que possuem grande valor. Proteger essas inovações é essencial para garantir que a empresa consiga capitalizar sobre sua criação e mantenha sua vantagem competitiva no mercado.

A questão da PI se torna ainda mais complexa em ambientes de pesquisa colaborativa, onde diferentes entidades, como universidades, centros de pesquisa e outras empresas, podem ter direitos sobre as tecnologias desenvolvidas.

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Quais são as oportunidades para as deep techs?

Embora o caminho das deep techs seja repleto de desafios, o potencial que essas tecnologias oferecem para transformar setores e resolver problemas globais é inegável. Vamos explorar algumas dessas oportunidades promissoras.

  • O potencial disruptivo é enorme

As deep techs são capazes de remodelar completamente indústrias estabelecidas e podem transformar a forma como as empresas operam e como os serviços são prestados. Por exemplo, na saúde, as tecnologias de deep tech estão possibilitando o desenvolvimento de tratamentos personalizados e avanços significativos no diagnóstico precoce de doenças. 

No setor agrícola, soluções baseadas em IA e biotecnologia estão melhorando a produtividade e a sustentabilidade da produção. Na mobilidade, tecnologias como veículos autônomos e carros elétricos estão transformando a maneira como nos deslocamos nas cidades.

Leia mais: Inteligência artificial no agronegócio: impactos da tecnologia

  • Elas contribuem para a solução de problemas globais

Tecnologias como energia solar de última geração, armazenamento de energia e reciclagem inteligente têm o potencial de transformar a maneira como lidamos com os desafios ambientais do planeta.

Do mesmo modo, a computação quântica pode ser um divisor de águas para a solução de problemas complexos em áreas como farmacologia, climatologia e segurança cibernética.

O futuro das deep techs na América Latina

O cenário de deep techs na América Latina está evoluindo rapidamente. O Brasil (30%), a Argentina (30%) e o Chile (19%) concentram o maior número de soluções na região, conforme relatório do BID

No que tange aos investimentos, o estudo Deep Tech: New Wave projeta que o volume aportado por fundos de venture capital nas empresas da região pode chegar a US$ 3,4bi em 2032

O sócio da Emerge pontua que há avanços necessários ainda em termos de desenvolvimento, no entanto:

“O ecossistema de deep techs na América Latina está ainda em fase inicial de desenvolvimento. Embora haja um volume significativo de pesquisas em áreas relevantes, como biotecnologia, energias renováveis e saúde, ainda há um gap entre a pesquisa científica e a sua aplicação prática no empreendedorismo”, sinaliza.

Delgado cita que algumas regiões já são consideradas referência no que diz respeito às deep techs. Alguns exemplos são Boston, em biotecnologia; Singapura, em computação quântica; Israel, em proteínas alternativas; e China, em semicondutores. 

Ele vê que há um potencial significativo para o crescimento dessas empresas na América Latina. 

“Temos casos de sucesso e projetos promissores, mas ainda estamos longe de criar uma vocação consolidada que possa gerar um número expressivo de empresas inovadoras no setor. Entretanto, a região possui um grande potencial para se destacar globalmente em áreas como doenças tropicais e negligenciadas, mudanças climáticas, biodiversidade e agronegócio”, destaca o sócio da Emerge.

Um novo ciclo para as deep techs

Com um cenário global favorável e um ecossistema em amplo desenvolvimento, as deep techs devem contar com avanços importantes nos próximos anos. 

A chave para isso será a capacidade de transformar sua forte base de pesquisa em inovação aplicada e competitiva globalmente.

Para startups que querem ir mais longe, estar conectado a um ecossistema forte faz toda a diferença. No Cubo Itaú, deep techs encontram um ambiente propício para crescimento, com conexões estratégicas, acesso a grandes empresas e oportunidades que podem acelerar sua jornada no mercado.

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