Tecnologia e agronegócio: 5 tendências usadas hoje e para o futuro

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Quando o assunto é tecnologia e agronegócio, o uso de recursos como a Inteligência Artificial (IA) tem apoiado cada vez mais a transformação do setor.  

A partir de medidas como a aplicação de sensores para identificar condições do solo, das plantas e conectar as informações às máquinas, é possível inovar as ações no campo, beneficiando produtores e toda a cadeia produtiva.  

O impacto dessas ferramentas fica ainda mais evidente ao olhar para a melhoria em produtividade, precisão e nas tomadas de decisão proporcionadas por elas.

Para entender mais sobre esse panorama e destacar tendências em tecnologia no agronegócio, conversamos com Juliana Chini, gerente de marketing regional da agtech Arable e Pedro Miranda, diretor-executivo (CEO) e fundador da Abundance. Confira a seguir! 

Tecnologia e agronegócio: otimização de processos

A tecnologia proporcionada pelas agritechs já contribui e pode ajudar ainda mais na visibilidade do que acontece na operação da agricultura, segundo Chini. Para ela, o produtor agropecuário é resiliente e conseguiu, apesar das adversidades, aumentar a produtividade nos últimos anos, investindo em inovação e sustentabilidade.

Após passar décadas atuando como pessoa física e controlando custos na caderneta, nos últimos anos o agricultor e produtor rural têm aumentado o nível de profissionalização.

“Hoje, a fazenda é vista como uma empresa pautada nos mesmos pilares do ESG, com foco em sustentabilidade ambiental e governança. E a tecnologia chegou como um motor para aumentar a produtividade, que estava bloqueada por falta de informação”, explica a representante da Arable no Brasil.

Porém, antes de dar sequência à conversa, é preciso explicar brevemente o que é ESG. A sigla diz respeito a práticas que estimulem a governança ambiental, social e corporativa. Tal medida, além de facilitar a entrada de investimentos, especialmente estrangeiros, nas organizações, também contribui para que haja uma cooperação corporativa que preserve o meio ambiente.

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As boas práticas de ESG visam tornar a produção e o consumo mais sustentável no planeta. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Nesse contexto, Chini afirmou que, por meio da tecnologia, o produtor consegue fazer uma gestão otimizada, bem como dedicar um tempo maior em operações mais estratégicas para a fazenda. “Ele tem que saber sobre clima, câmbio, agronomia, gestão, logística, uma imensidade de fatores. E quando a tecnologia passa a ser usada, auxilia na tomada de decisão e aumenta a lucratividade, permitindo pensar em sustentabilidade, gestão e governança.”

Pedro Miranda avaliou que a floresta também passa por um processo tecnológico o qual conseguiu conectar outros negócios à natureza, caracterizando a economia verde, que visa reduzir riscos ao meio ambiente e melhorar, por tabela, o bem-estar social.

Por exemplo, o uso de satélites permite provar que a floresta está ali de fato e atualizar a informação aos clientes. Além disso, a inteligência artificial consegue analisar os padrões de imagens que de fato estão aumentando a biomassa florestal e a vegetação, estimando a quantidade de carbono que há ali e de que forma pode ser compensado.

O fundador da Abundance explica que tal medida pode ser resumida com o conceito Monitoring, Reporting and Verification (MRV) que, em tradução livre, seria algo como Monitoramento, Relatórios e Verificação.  

Desse modo, analisa-se a floresta por meio de documentos com suporte audiovisual, para acompanhar fatores como etapas do plantio, projeção de carbono e transparência financeira.

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Conheça as principais aplicações e tendências em tecnologia que estão impactando o agronegócio: 

1. Software como Serviço (SaaS)

Chini elencou que o agricultor já utiliza tecnologias pioneiras, como softwares a base de SaaS para auxiliar na gestão, aplicativos que sintetizam e apresentam o fluxo de caixa e as ações dos colaboradores. 

2. Internet das Coisas (IoT)

Além do SaaS, outros exemplos mais avançados têm sido ofertados por startups dedicadas a atender esse mercado, como softwares para controlar custos, facilitar a gestão operacional e financeira, além de hardwares com sensores e conectividade embarcada, por meio da IoT, conectando máquinas, animais e plantas.

A agricultura de precisão também já é uma realidade. Na agropecuária, são aplicados sensores para acompanhar o crescimento do animal, enquanto na agricultura a mesma tecnologia é usada para identificar pragas, captar informações sobre clima, solo e plantas e das próprias máquinas utilizadas.

Outro exemplo citado por Miranda é quanto aos drones que, associados à tecnologia de infravermelho, são usados para avaliar a biodiversidade, o que antes era feito in loco. Dessa forma, otimiza-se o monitoramento para que o agronegócio melhore. E, consequentemente, há uma superabundância de dados que são convertidos em inteligência de mercado para agregar valor ao negócio.

3. Marketplaces

Outra inovação citada é a de marketplaces para compra e venda de insumos e commodities. “Existem startups que estão em uma fase madura atuando com isso”, comentou Chini.

4. Redução das emissões de carbono

A profissional ressaltou uma das principais temáticas apresentadas durante o Agri-tech South America Summit, evento que discutiu a evolução da inovação no setor, e que também impacta o desenvolvimento de novas tecnologias: a pegada de carbono.

Uma parte considerável das empresas já dispõe de compromissos firmes e agressivos para zerar as emissões de carbono entre 2030 e 2050. Nesse contexto, começam a surgir exemplos de práticas na agricultura para fazer o mesmo. “Este tem sido um tema relevante, no Brasil especialmente, acredito que pelo potencial do país em desbloquear o mercado de carbono que ainda não está desenvolvido, além das questões climáticas”, enfatizou a gerente de marketing. 

Atualmente, parte das agtechs estão atuando para auxiliar na resiliência climática. No Brasil, a representante da Arable acredita que é possível aumentar a produtividade sem expandir o uso de terras. “Conseguimos produzir mais com tecnologia. A agricultura se coloca num papel protagonista frente a essas mudanças”, avaliou Chini. 

O fundador da Abundance complementa explicando que uma das principais emissões de carbono está conectada à gestão menos eficiente das terras. “Quando se faz monocultura de soja, de eucalipto, de gado, por exemplo, por não trabalhar a diversidade, acaba-se impactando o ecossistema da região”, explicou.

Assim, no processo de descarbonização do planeta, é necessário que seja feita uma agricultura mais sintrópica e biodiversa, restaurando o meio ambiente. É o caso da soja regenerativa, que não é originada a partir do desmatamento.

Outra medida é criar um cinturão de árvores nativas, usando parte de uma cultura de soja e a outra metade de culturas diversas. “Ao adotar uma cultura biodiversa e pensando em como gerar serviços para a revisão abraçando a biodiversidade, consegue-se contribuir com o solo, criando um ecossistema mais rico que absorve mais carbono”, pontuou Miranda. 

Um exemplo de tecnologia que também auxilia esse processo é a feita pela Abundance. “Nossa solução gera cotas florestais, para financiar novas florestas sustentáveis”, comenta o CEO da empresa. Até o momento, com o uso do produto criado pela agritech, já foram plantadas 200 mil árvores, com a expectativa de cultivar um bilhão delas até 2030, de forma descentralizada.  

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O plantio de novas árvores auxilia na redução da pegada de carbono. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

As empresas, por sua vez, compram um ativo ambiental que entra em seus balanços de ESG, recebendo os benefícios socioambientais, promoção da biodiversidade e crédito de carbono. “Sugerimos uma quantidade de árvores para ela plantar e ajudamos a comunicar ao mercado de como descarbonizar”, explica.

Contudo, o desafio para estimular que os empresários, especialmente os pequenos e médios fazendeiros, adotem a tecnologia ainda é grande. “Estamos em uma urgência climática e as empresas ainda precisam evoluir na compra de crédito de carbono, especialmente para plantio de novas árvores. Essa democratização e inclusão de todos no processo de restauração ambiental é algo que precisa ser valorizado”, reforçou Miranda.

5. Inteligência Artificial (IA) 

O aprendizado de máquina igualmente tende a contribuir com a agricultura, ao conectar, via tecnologia, animais, plantas, solo e maquinário. “Tudo isso gera uma quantidade enorme de dados. Para um produtor, os dados são relevantes, mas o que é de fato importante é a tomada de decisão”, comentou Chini.

Juliana Chini acredita que a inteligência artificial é a chave para fomentar a sustentabilidade da produção. Economicamente, tecnologias como essa auxiliam a usar menos insumos, reduzir gastos com água, otimizar a lucratividade, diminuir custos, gerenciar os funcionários e dar qualidade de vida a todos que atuam no campo.

Mesmo em um segmento considerado conservador, como o agronegócio, também existem os early adopters, que testam inovações desde a primeira versão. “O ecossistema está mais maduro no Brasil, ao mesmo tempo em que os produtores estão mais ávidos por tecnologia. Estamos otimistas”, pontuou Chini.

No caso da Arable, a empresa desenvolveu uma solução de inteligência agrícola, que ajuda produtores em mais de 30 países na melhor tomada de decisão, produzindo relatórios com dados sobre clima, planta e solo. A agtech criou uma estação agrometeorológica que funciona a partir de energia solar em um dispositivo compacto, de fácil instalação que, ao ser conectado à lavoura, capta informações sobre clima, planta e solo.

Com tecnologia baseada em machine learning, a máquina coleta dados que são transmitidos para a nuvem e podem ser acessados via plataforma web, aplicativo ou API. Entre as aplicações possíveis a partir da análise dos dados, estão:

  • avaliar o melhor momento para aplicar defensivo; 
  • indicar quando fazer a irrigação inteligente e otimizada;
  • observar quando realizar a colheita; 
  • planejar as demais operações de cada lavoura.

Hoje, mais de mil dispositivos do tipo são usados por produtores brasileiros. “É uma ferramenta escalável que auxilia na adoção tanto dos grandes quanto dos pequenos produtores”, explicou a representante da Arable. 

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A tecnologia é uma importante aliada para uma produção mais eficiente e sustentável. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Conectividade e acesso às linhas de crédito: desafios a serem superados

Apesar da extensão continental, o Brasil ainda tem uma barreira para startups e produtores, que não conseguem usar parte das tecnologias produzidas por falta de acesso à internet com qualidade no campo.

Outro desafio é o acesso a recursos financeiros. Embora já existam linhas de crédito para financiamento de produtos, parte dos serviços segue desassistida. “Isso tem sido discutido pelo Ministério da Agricultura, para ampliar o crédito rural e facilitar a adoção dos pequenos produtores”, pontuou Chini.

Ecossistemas de inovação auxiliam a amadurecer uso da tecnologia por produtores rurais

Chini acrescentou que hubs com foco em inovação, como o Cubo Agro, contribuem para amadurecer o mercado, bem como escalonar o uso das tecnologias pelos produtores. 

“Os hubs conseguem fomentar um ambiente de diálogo e de possibilidades. O Brasil está aquém em inovação em relação a outros países, mas com esse ecossistema, unindo academia, empresas, governo e produtores, conseguimos de fato inovar e gerar impacto, que é o que mais precisamos”, finalizou.

Saiba mais sobre o Cubo Agro, iniciativa que fomenta a transformação e o desenvolvimento da inovação no setor, no Brasil e na América Latina.

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Somos o Cubo Itaú, uma comunidade que, desde 2015, conecta as melhores soluções para construir grandes cases de inovação para o mercado. Ao lado de nossos idealizadores, Itaú Unibanco e Redpoint eventures, e de um seleto time de startups e corporates, conquistamos o selo de um dos mais relevantes hubs de fomento ao empreendedorismo tecnológico do mundo.

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