Cultura data driven: o que é e como aplicar?

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Não é de hoje que se ouve ou se lê a seguinte expressão: “Os dados são o novo petróleo”, cuja autoria é atribuída ao cientista de dados britânico Clive Humby. Porém, de nada adianta coletá-los e tê-los se eles não forem transformados em informação que agregue valor aos negócios. 

Nesse cenário, surge o termo data driven, que em português quer dizer orientado a dados, e busca tangibilizar o olhar para os dados como centralidade e estratégia de negócio. 

Mas o que significa cultura data driven? E qual é a importância de sua aplicação? Pensando nessas e em outras questões, preparamos este artigo no qual você confere respostas aos seguintes tópicos: 

  • O que é cultura data driven? 
  • Quais são os pilares da cultura data driven? 
  • Por que aderir à cultura data driven? 
  • Como aplicar a cultura data driven? 
  • Exemplos de companhias que adotam a cultura data driven 
  • Qual é a importância da ética na cultura data-driven?

Confira a seguir o que é ser uma organização em que a cultura data driven prevaleça. Boa leitura!

O que é cultura data driven?

Atualmente, qualquer organização consegue coletar ou produzir dados de diversos tipos. Mas a cultura data driven é, em sua essência, muito mais do que meramente um repositório deles. O grande “X da questão” é analisar e interpretar essas informações.

E a infinidade de dados aumenta a cada dia que passa. Para se ter uma breve ideia sobre a imensidão de informações, em junho de 2021 o portal da revista Exame divulgou os seguintes números, a partir de estatísticas do Instituto Gartner e da empresa Domo, que diziam ter sido gerados até o período:

  • 9,1 mil terabytes de dados; 
  • 1,2 milhões de pessoas usando softwares como o Zoom para realizar videochamadas; 
  • 400 mil cadastros em vagas de emprego usando o LinkedIn; 
  • 250 milhões de mensagens enviadas e recebidas via aplicativo do WhatsApp. 

Ou seja, é um manancial de dados que podem ser avaliados e usados em prol dos negócios, ressalvando a privacidade e consentimento dos usuários que são convertidos em fontes desses conteúdos.

Assim, a partir do processo de refinamento dos dados coletados, é possível produzir uma série de insights que auxiliam a compreender desde o comportamento do seu público consumidor até a atualização de produtos e serviços, entre outros fatores. 

Em meio as possíveis ações que são colocadas em prática a partir da análise aprofundada dos dados coletados, estão:

  • desenhar estratégias para se relacionar com o público; 
  • conectar-se a novos parceiros de negócio; 
  • desenhar ou aprimorar o perfil de clientes em potencial. 

dois rapazes estão sentados frente a telas de computador e em volta deles há hologramas de códigos de programação.  

Uma cultura data driven é orientada por cinco pilares: pessoas, processos, ativos digitais, dados e tecnologia. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Benefícios da cultura data driven

Conheça os principais benefícios da cultura baseada em dados:

  • Redução do retrabalho: com informações relevantes justificando as ações, a tendência é que o esforço dos times vai ser colocado em hipóteses claras e com boas chances de darem certo, evitando ações repetidas e pouco úteis;
  • Clientes mais satisfeitos: decisões que são bem tomadas e foco em projetos com chances de sucesso melhoram os resultados e, com isso, geram efeitos positivos na experiência de todos os stakeholders, principalmente os clientes;
  • Economia de recursos: quando escolhemos as melhores ações de um jeito estratégico, usamos os recursos disponíveis com mais efetividade e poupamos desperdícios tanto de tempo quanto de dinheiro;
  • Mindset de crescimento: analisar números e dados ajuda toda a empresa a ter uma mentalidade abrangente, que olha para a frente e pensa sempre em como aprimorar os processos e gerar mais crescimento.

Quais são os pilares da cultura data driven?

Para levar a cultura data driven à sua corporação, devem ser considerados os seguintes pilares que guiarão o processo de implementação em seu negócio. 

Pessoas

É necessário contar com o apoio de profissionais qualificados para tornar a cultura data driven uma realidade em sua corporação. 

Assim, departamentos de talentos e recursos humanos devem ser orientados a contratar cientistas de dados e de um cargo C-level na área. 

A consultoria Gartner divulgou um dado importante sobre esse fator: até 2023, um terço das organizações deverão ter em seu corpo de talentos profissionais que atuam a partir da inteligência e modelagem de decisão, considerando para tanto a análise de dados.

Entre os profissionais essenciais para tornar essa prática uma realidade, a consultoria também cita os líderes de dados e análise (D&A), já que podem gerar valor a partir das observações feitas na avaliação dos dados.

Processos 

O próximo passo é descentralizar o armazenamento de dados para tornar o trabalho mais ágil e inteligente. 

Em vez de concentrar os esforços em uma só área, vale apresentar a dinâmica aos demais colaboradores e treiná-los para auxiliar a equipe responsável por avaliar as informações.

Ativos digitais

Se sua corporação tem como principal produto aplicativos ou o site institucional pelo qual recebe informações de parceiros de negócios e de clientes, o aperfeiçoamento deles é outro pilar importante para aplicar a cultura data driven na prática. 

Ao otimizar esses recursos, é possível utilizar os dados, sejam eles quais forem, em favor do negócio, aprimorando a relação com o seu público. 

Dados

Como a cultura data driven está pautada em dados, não podíamos deixá-los de fora dessa lista de pilares. Assim, para toda e qualquer informação que esteja de posse do seu negócio, é primordial oferecer segurança para seus clientes e parceiros. 

Em tempos de exposição das informações pessoais, é fundamental estabelecer uma política interna e alinhada à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

A LGPD, Lei n. 13.709, publicada em 14 de agosto de 2018, prevê em seus artigos uma série de direitos e deveres que devem orientar a cultura data driven da sua corporação. 

Em caso de descumprimento dos requisitos previstos na legislação, diversos tipos de sanções estão previstas, entre elas multas e sanções como o bloqueio do banco de dados.

Tecnologia

O quinto e último pilar da cultura data driven é apresentar e aplicar no dia a dia do negócio ferramentas que automatizam processos e colaboram tanto para coletar dados quanto para processá-los.

A imagem mostra uma moça sentada em frente a notebook e no visor há dashboards. Ela está analisando esses dados.Ao analisar e interpretar os dados, a corporação pode ser privilegiada com uma série de benefícios que atuam em favor do negócio. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Por que aderir à cultura data driven?

Se você ainda não está convencido de que a cultura data driven é benéfica para o seu negócio, uma das principais vantagens que ela proporciona pode fazê-lo mudar de ideia: a cultura da inovação. 

Ao compreender para além do que está dado sobre as informações levantadas, insights podem surgir, beneficiando a dinâmica do negócio, a melhoria contínua e entender o que não está funcionando. Seja para melhorar produtos e serviços, seja para alterar a rota do que havia sido traçado como objetivo da corporação, entre outros.

Dessa forma, a cultura data driven também permite o surgimento de ideias inovadoras que, por sua vez, podem ser um motor propulsor de ações para colocá-las em prática. E não apenas criar ideias, mas pautar suas ações em fatos comprovados.

Assim, tomam-se decisões mais acertadas em detrimento de meros “achismos” que vez ou outra podem ditar a tônica da rotina de um negócio. 

Uma moça está sentada em frente a uma tela de computador e há outra moça de pé, ao seu lado, apontando para um dado e fazendo uma explicação.

Entre as vantagens proporcionadas pela cultura data driven está o fomento à inovação e à comprovação de ideias. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Como aplicar a cultura data driven

Depois das informações que você conferiu até agora, quer fazer a cultura data driven revolucionar seu negócio? Basta seguir os cinco passos a seguir.

1. Crie uma estratégia

Antes de simplesmente coletar todo e qualquer tipo de dado, é importante pensar de que forma eles serão usados após serem analisados. Assim, uma etapa inicial para fazer esse processo, que também requer recursos humanos e ferramentais, deve considerar os pontos: 

  • identificar quais dados serão coletados e por quais motivos; 
  • pensar em como esses dados serão armazenados; 
  • levantar quais serão os parâmetros de análise; 
  • alinhar quais são os objetivos principais na interpretação dos dados.  

Após definir essas etapas em conjunto com os demais profissionais da equipe, ficará mais fácil avaliar como os dados refinados e analisados vão, de fato, auxiliar o seu negócio a alcançar o crescimento. Independentemente da forma que serão manejados no contexto.

2. Contrate talentos especializados

Após definir cada um dos pontos sinalizados anteriormente, é preciso também refletir se há a necessidade de buscar e contratar talentos especializados no assunto.  

Ou, para além disso, capacitar e treinar aqueles que já atuam na corporação e que demonstram interesse em seguir nessa linha. Há, ainda, uma terceira via de fazer os dois procedimentos: contratar novos e treinar os atuais. 

De todo modo, entre as habilidades essenciais para lidar com o processo de análise dos dados, estão: 

  • entender o negócio de forma mais aprofundada; 
  • ter pensamento analítico para lidar com diferentes informações; 
  • ser capaz de se comunicar oralmente, bem como ao organizar relatórios. 

3. Invista em capacitação e tecnologia

Este terceiro passo está intimamente relacionado ao anterior. Mesmo que se opte pela contratação de profissionais especializados, em alguma medida os que já fazem parte da corporação precisarão aprender como manusear e observar os dados. 

Assim, vale entender as possíveis qualificações existentes no mercado e estimular os membros da equipe para aprender mais.

Além disso, tanto para coletar quanto para analisar os dados são necessárias ferramentas, geralmente em forma de tecnologia, para facilitar o processo. E para evitar o desperdício de recursos financeiros, cabe pesquisar o que há no mercado que pode ser aplicado na realidade do seu negócio. 

Como citado anteriormente, para além das pessoas que vão lidar diretamente com a coleta e observação dos dados, é prudente contar com respaldo de especialistas em Direito digital.

Sejam advogados ou outros experts, são eles cuja bagagem de conhecimento aprofundado em legislações como a LGPD poderão auxiliar todos a armazenar e utilizar as informações em conformidade com o dispositivo legal. 

4. Estimule a multidisciplinaridade

Uma das maneiras de fazer que sua corporação respire a cultura data driven é encorajar profissionais de diferentes setores a participarem do processo.  

A multiplicidade de olhares será vantajosa para entender o cenário e observar, por vezes, pontos que não estão ou não estavam no radar dos especialistas em dados.

Nesse sentido, vale consultar e entender aqueles que estão dispostos e têm interesse em participar, bem como qualificá-los em caso de necessidade. 

5. Seja resiliente

Quando é preciso transformar e mudar determinadas olhares dentro de um negócio, a resistência entre os pares pode ser um obstáculo adicional a ser superado.  

Portanto, contar com uma boa dose de resiliência é recomendado. Para tanto, vale apontar os benefícios, como maior eficiência e produtividade, qual mudança será gerada ao negócio e de que forma é possível encontrar soluções para enfrentar os problemas em conjunto. 

Quer ainda mais facilidade para entender como aplicar a cultura data driven na prática? Veja na sequência alguns exemplos feitos por outras corporações.

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duas mulheres estão sentadas em sofás. A que está sentada à direita da foto tem um notebook e está mostrando algo para a outra mulher. 

Quando há uma necessidade de mudar os processos, a resistência pode dar as caras. O que também é passível de acontecer ao implementar a cultura data driven. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Exemplos de companhias que adotam a cultura data driven

Uma série de organizações já se abriu às oportunidades que a cultura data driven proporciona. Conheça algumas delas a seguir: 

Amazon

A gigante varejista que marca presença em diversas partes do mundo utiliza os dados para melhor organizar e categorizar o estoque, bem como otimizar os processos de logística. Tudo isso é possível com o apoio da tecnologia, por meio de algoritmos inteligentes. 

Google

Ainda na lista de grandes corporações que embarcaram na cultura data driven está a Google, que integra o rol de negócios pertencentes à holding Alphabet Inc.  

Para entender o comportamento dos usuários no processo de busca, a companhia utiliza e analisa os dados derivados e imputados por eles para entregar os melhores resultados em seu buscador. 

Facebook 

Uma das principais redes sociais que teve seu esplendor ao longo da segunda década dos anos 2000 igualmente entende o valor dos dados. E não podia ser diferente, pelo seu nicho de negócio. Por lá, eles são avaliados para entregar aos usuários os anúncios que estejam de acordo com suas preferências. 

Netflix

Pode até parecer banal, mas os símbolos de “thumbs up; thumbs down”, a famosa joinha para cima ou para baixo, que estão disponibilizadas em cada série ou filme da Netflix tem uma razão de ser.

Esse recurso, além de outros dados que são coletados continuamente na plataforma de streaming, orienta o tema de novas produções criadas pela companhia. Serve como um "termômetro" da opinião pública, por assim dizer.

Qual a importância da ética na cultura data driven?

Quando o assunto é ética e dados, automaticamente se recorda de um dos casos que chocou a imprensa nacional e internacional, dada a repercussão sobre o modo como as informações foram utilizadas: Cambridge Analytica e Facebook. 

Na foto há quatro quadrados de madeira com símbolos e uma mão masculina está colocando o quadrado que possui o símbolo de balançaA ética é um componente catalisador para garantir o bom andamento da cultura data driven. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Revelado em 2018, o considerado escândalo pela mídia envolveu a então consultoria britânica à época que teria usado desde 2014 os dados pessoais de mais de 87 milhões de pessoas em 10 países para favorecer em 2016 a campanha de um dos candidatos à Presidência dos Estados Unidos. A medida foi considerada uma ameaça à isonomia do processo democrático, uma vez que não houve o consentimento dos usuários para tanto. 

Em razão da gravidade desse acontecimento, foi implementado a partir de maio de 2018 o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia. A mesma legislação serviu como base para a criação da LGPD brasileira, entre outras ao redor do mundo.

Ou seja, a ética na cultura data driven não está relacionada apenas à privacidade, mas a todos os componentes morais das pessoas que manuseiam os dados. Assim como de que forma tais informações serão usadas, se em prol de objetivos socialmente justos ou não. 

Depois de tanta informação, já deu para entender que é preciso implementar a cultura data driven em seu negócio, né? Quer se manter informado a respeito do universo de tecnologia e inovação? Assine a newsletter do Cubo e receba conteúdos direto em sua caixa de entrada!

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