Inteligência artificial: debates e insights do SXSW 2024
O South by Southwest Conference & Festivals (SXSW 2024) segue rendendo informação de qualidade. E como não podia ser diferente, o tema Inteligência Artificial (IA) rendeu uma série de insights.
O time do Cubo Itaú esteve na ocasião e traz um compilado de conteúdo sobre o assunto para que você fique bem-informado. Acompanhe a seguir!
Leia mais:
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- Futuro da inteligência artificial: impactos nos modelos de trabalho
Investindo no futuro da infraestrutura de IA
Entre as diversas palestras realizadas na ocasião, uma teve como foco a infraestrutura e desenvolvimento da IA nos últimos e nos próximos anos.
Em Investing in the Future of AI Infrastructure, as palestrantes Eleanor Haglund, diretora na NVIDIA; Saanya Ojha, partner na Bain Capital Ventures; e Ishani Thakur, partner na Index Ventures ressaltaram que, apesar de ter acontecido um desenvolvimento rápido nos últimos anos, muito por conta da evolução do poder computacional, ainda há uma série de gargalos quando se fala na criação e na distribuição da tecnologia.
Antes de dar sequência na discussão e para facilitar a compreensão, as especialistas definiram o conceito sobre o tema principal. Para Ojha, a infraestrutura de IA se refere aos chips e componentes de hardware, que possibilitam o armazenamento dos dados, criação e treinamento dos modelos.
Entre os gargalos que ainda precisam ser solucionados em relação à criação e distribuição dessa tecnologia estão:
- dificuldade em relação a recursos para desenvolver soluções para startups e empresas emergentes;
- qualidade de dados e garantias de privacidade e de segurança.
Nesse contexto, existe um potencial para determinados setores da economia ao aplicar a IA em seus processos, assim como o uso de deep learning e da automação.
Haglund enfatizou que a revolução da IA é semelhante à propiciada pela eletricidade e deve influenciar tudo daqui para a frente.
Thakur, por sua vez, ressaltou que a cadeia de suprimentos tende a ser beneficiada. A criação de réplicas digitais, por exemplo, pode auxiliar a entender processos de produção e de distribuição.
Já Haglund acrescentou que entre os setores mais impactados por tal tecnologia está o da saúde, sobretudo no desenvolvimento de medicamentos, bem como na educação.
Os algoritmos podem ser considerados minions digitais que obedecem a comandos dados por humanos para aumentar fatores como a produtividade. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Economia dos algoritmos
Com a ascensão da IA, uma das possibilidades de uso por parte das organizações é a dos algoritmos.
Marek Kowalkiewicz, professor em Economia Digital na QUT Business School, destacou que se vive hoje a economia dos algoritmos, em especial a popularidade do que ele intitulou como minions digitais.
Contudo, para “surfar nessa onda” e prosperar, as organizações precisam se adequar às regras desse novo cenário, que são:
- automatizar incansavelmente, mas com atenção;
- construir um exército de minions digitais;
- capacitar equipes;
- lançar novas propostas de valor;
- iniciar uma revolução digital;
- ser curioso;
- maximizar o valor do cliente;
- construir ecossistemas digitais;
- criar um futuro ousado.
Algoritmos: os minions digitais
Apesar de o surgimento dos algoritmos como conhecemos ser de longa data, com registros datados no século XIX, somente nos últimos anos ganharam certo destaque.
Fazendo um paralelo com os minions, indivíduos que reproduzem aquilo para o qual foram orientados a fazer, Kowalkiewicz considera que podemos utilizar os algoritmos como assistentes digitais.
A ideia é que esses “assistentes” ajudem a melhorar a produtividade humana por meio da automatização de tarefas, principalmente as mais específicas e personalizadas. Tal automação proporcionada pelos algoritmos pode acontecer em diferentes níveis: variam de assistências pontuais até trabalhos feitos sem nenhuma participação humana.
Porém, para tanto, cabe aos humanos desenvolver habilidades para saber lidar com a tecnologia.
O especialista adiantou que um aspecto fundamental para que isso aconteça é que os humanos otimizem a habilidade de comunicação com os algoritmos e IAs. Sem isso, não será possível interagir e extrair o melhor dessas ferramentas.
Tal aspecto também será relevante para os negócios, que precisarão considerar esse fator na interação de bots com consumidores, por exemplo.
Mas, assim como destacado por speakers como Amy Webb nos dias iniciais do evento, um ponto que não deve ser perdido de vista é em relação à transparência e ética.
Para Kowalkiewicz, a coleta e o tratamento dos dados, as informações sobre o modelo e seu treinamento e a consistência dos resultados, entre outros aspectos, devem ser delimitados e apresentados aos usuários de forma objetiva e clara.
O especialista finalizou trazendo à tona uma discussão que geralmente é destacada na mídia especializada: a tecnologia tem a capacidade de substituir a mão de obra humana? Ao passo que, para ele, recursos como os minions digitais apenas obedecerão, cabendo aos humanos serem seus “soberanos”.
Inteligência Artificial Geral
O desenvolvimento da chamada Inteligência Artificial Geral (AGI, na sigla em inglês), também foi um dos pontos destacados durante o SXSW 2024. Shane Legg, Chief AGI Scientist do Google DeepMind, apresentou um panorama e as expectativas a seu respeito.
Para ele, a AGI pode ser definida como a inteligência artificial que executa tarefas cognitivas no mesmo nível dos humanos. A aposta de Legg é que esse tipo de IA passe a existir a partir de 2028.
Há, no entanto, discussões importantes que ganham força a respeito desse tipo de tecnologia.
Os impactos da existência da AGI para a sociedade, por exemplo, são um tópico que precisa ser considerado já no seu desenvolvimento e com uma perspectiva ampla, uma vez que as mudanças proporcionadas por ela devem ser grandes e ainda não podem ser dimensionadas.
O desenvolvimento ético e priorizando a segurança também é outro ponto destacado por especialistas.
Na visão de Legg, porém, o potencial transformador da AGI supera seus possíveis aspectos negativos. Entre as áreas que, para ele, devem ter maiores efeitos diretos advindos da AGI estão medicina, energia e ciência de materiais.
O SXSW 2024 discutiu as possibilidades da AGI. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Tecnologia inclusiva
Mas a IA só terá um potencial realmente transformador se considerar as pessoas e toda sua diversidade ao longo de seu desenvolvimento e posterior uso. Foi a ideia defendida por Candi Castleberry, vice-presidente de Diversidade, Equidade e Inclusão da Amazon, e Renzo Rodriguez, diretor-geral de Tecnologia e Inovação da Amazon Web Services (AWS).
Para Castleberry, além de apostar no desenvolvimento técnico, as organizações precisam tomar como primeiro passo a construção de um time diverso. Além disso, é preciso elaborar tecnologia de modo inclusivo e não adicionar a inclusão como uma camada posterior do processo.
Este último ponto, inclusive, deve ser priorizado como um mindset contínuo de toda a companhia, independentemente de seu porte e segmento de atuação. Castleberry acredita que a tecnologia é uma ferramenta fundamental para fomentar a inclusão, e o seu avanço só pode acontecer por meio dela.
Rodriguez acrescentou que, com relação à IA, o desenvolvimento tecnológico inclusivo demanda transparência, governança e um olhar para educação, justiça e exclusão de preconceitos.
Outro ponto destacado por ambos os palestrantes diz respeito aos dados. Assim sendo, deve-se garantir privacidade e segurança ao longo de toda a jornada de desenvolvimento.
IA Generativa: ferramenta nos torna mais humanos
Um dos momentos mais aguardados do SXSW 2024 foi a palestra conduzida por Peter Deng, Head do ChatGPT e vice-presidente de Consumidores da OpenAI. Na ocasião, o palestrante ressaltou que a IA nos torna mais humanos, possibilitando que mergulhemos mais fundo nos assuntos.
Assim sendo, a grande virada de chave em torno do uso da IA é que essa tecnologia está tornando as pessoas mais questionadoras e curadoras de conteúdo.
Como não podia ser diferente, o ChatGPT foi colocado como o centro do debate. O recurso foi apontado como um “professor atemporal”, com a capacidade de encorajar seres humanos a serem curiosos e terem a mente aberta. Para Deng, o ChatGPT é uma ferramenta flexível, removendo barreiras e permitindo aumentar a produtividade.
Um estudo recente da Universidade Harvard e do Boston Consulting Group (BCG) apresentou os potenciais do uso da IA no ambiente de trabalho. A tecnologia por trás de assistentes digitais e de algoritmos provou aumentar a produtividade e eficiência em 12,2%, tornando os humanos 25,1% mais rápidos, com resultados 40% superiores em termos de qualidade em comparação ao trabalho feito sem IA.
Dessa forma, a IA, especialmente a do tipo generativa, tem o poder de fazer as tarefas consideradas mais monótonas e repetitivas, cabendo aos indivíduos ocuparem-se com o que realmente importa. Nesse sentido, a tecnologia não tem a pretensão de substituir pessoas, mas de potencializar suas habilidades no que sabem fazer de melhor: serem humanas.
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Referências: