Gestão de equipes multidisciplinares: como fazer a inovação acontecer

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A palavra “multidisciplinaridade” pode soar sofisticada, mas na prática, ela se traduz na combinação de diferentes expertises, conhecimentos e perspectivas dentro de um mesmo time. E quando falamos do meio corporativo, são essas equipes que impulsionam soluções inovadoras, aceleram processos e aumentam a competitividade.

Mas nem tudo são flores. A gestão desse time traz desafios específicos que precisam ser encarados de frente. Quer entender melhor como isso deve acontecer? Vem com a gente.

 

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O que são equipes multidisciplinares?

Sabe aquele time que junta devs, designers, analistas de negócios e profissionais de produto e inovação? Isso é um exemplo de equipe multidisciplinar. A ideia é reunir históricos de diferentes especialidades para colaborar em projetos, combinando habilidades técnicas, criativas e estratégicas.

Estruturar equipes com expertises distintas tem sido um fundamento importante para a inovação nas empresas. Isso porque essa é uma das formas de incentivar trocas estruturadas em prol do processo de geração de ideias e projetos inovadores, além de favorecer a lógica de cultura de experimentação e colaboração

equipes multidisciplinares e equipes interndisciplinares

Qual a diferença entre equipes multidisciplinares e interdisciplinares?

Pode parecer que estamos falando da mesma coisa, mas existe uma diferença sutil e importante. Enquanto uma equipe multidisciplinar tem profissionais de diferentes áreas trabalhando juntos, cada um mantendo sua especialidade, uma equipe interdisciplinar vai um passo além: os conhecimentos são integrados, criando novas abordagens e soluções.

 

Importância das equipes multidisciplinares no ambiente corporativo

Ter um time diverso em termos de conhecimento e habilidades não é apenas uma tendência, é uma necessidade para empresas que querem se manter competitivas. Com diferentes perspectivas na mesa:  

  • Soluções se tornam mais criativas
  • Tomadas de decisão são mais embasadas
  • Projetos ganham mais dinamismo

 Além disso, pensamentos diversos são um fator crucial para a inovação. Não é à toa que grandes empresas estão investindo pesado na formação de equipes multidisciplinares para resolver problemas complexos e explorar novas oportunidades de negócio. 

desafios da gestão multidisciplinar

Desafios da gestão de equipes multidisciplinares

Agora, nem tudo é tão simples. Se por um lado a multidisciplinaridade traz benefícios, por outro ela exige uma gestão eficiente para evitar desalinhamentos e conflitos. Alguns dos principais desafios são:

Diferentes linguagens e mindsets

Cada área tem seu próprio jargão e forma de trabalhar. Um programador pode ter um ritmo e uma abordagem completamente diferente de um profissional de marketing, por exemplo.

Resistência à colaboração

Muitos profissionais estão acostumados a trabalhar dentro de suas bolhas e podem ter dificuldade em abrir espaço para outras perspectivas.

Dificuldade nas tomadas de decisão

Quando várias vozes estão envolvidas, pode ser mais difícil chegar a um consenso. E diferentes especialistas podem ter prioridades conflitantes, o que pode gerar impasses.

Gestão de expectativas

A falta de clareza sobre responsabilidades pode levar a desalinhamentos, sobrecarga de trabalho em alguns profissionais e a sensação de que os esforços não estão gerando resultados.

Tendo isso em mente, muitas vezes os times precisam equilibrar no dia a dia o olhar de inovação com os riscos atrelados a ela. Nesse caso, o conselho de Juliana Fernandes Okuda, Innovation Manager na Ajinomoto, é dar um passo atrás do outro:

“Quando pensamos em "portfólio de inovação" ao invés de olhar desafio a desafio, conseguimos equilibrar o risco atrelado ao portfólio, e isso vai depender da realidade de cada companhia, é claro. Além de tudo, sempre iniciar em ambientes testes para mitigar os riscos, e ter um acompanhamento próximo durante a execução do piloto, de modo que, caso haja a necessidade de uma mudança de rota, isso aconteça rápido”.

bbeneficios da equipe multidisciplinar

 

Benefícios das equipes multidisciplinares para as corporações

Como em qualquer aspecto do meio corporativo, a gestão de equipes multidisciplinares também tem dois lados da mesma moeda.

Um estudo da McKinsey mostra que empresas com diversidade apresentam resultados até 25% melhores. E melhora: elas possuem 80% a mais de chances de desenvolver um diálogo aberto com os empregados e 66% a mais de chances de promover a cultura de inovação.

Aproveitando a deixa, é hora de explorar o lado positivo: os benefícios de criar e gerenciar uma equipe multidisciplinar.

Perspectivas diversas levando a soluções inovadoras

Quando diferentes especialidades se unem, a troca de conhecimento gera insights valiosos e cria soluções que talvez não surgissem em equipes mais tradicionais.

O olhar diverso permite antecipar desafios, pensar fora da caixa e encontrar saídas criativas para problemas complexos. Essa abordagem é especialmente poderosa quando combinada com metodologias ágeis e uma cultura de experimentação, permitindo adaptações e testes rápidos.

Tomadas de decisão e adaptação ao mercado mais ágeis

Com um time plural, a decisão não fica restrita a um só ponto de vista. Isso torna os processos mais ágeis, pois diferentes frentes podem ser abordadas de forma simultânea, reduzindo gargalos e permitindo respostas mais rápidas às demandas do mercado.

Equipes multidisciplinares bem gerenciadas são fundamentais para acelerar ciclos de inovação, o que torna a empresa como um todo mais flexível e preparada para quando as mudanças batem na porta.

Maior engajamento e aprendizado contínuo

Trabalhar em uma equipe multidisciplinar expande o repertório dos profissionais, que deixam de ser responsáveis por apenas uma peça do quebra-cabeça. 

A interação com diferentes áreas permite um aprendizado constante, fortalecendo a colaboração e tornando os times engajados e motivados. Essa troca de conhecimento é uma via de mão dupla, porque também contribui para a formação de lideranças mais preparadas e inovadoras.

Redução de retrabalho e maior eficiência

Trabalhar em uma equipe multidisciplinar permite que os problemas sejam analisados por diferentes ângulos logo no início do projeto, reduzindo a necessidade de ajustes que apareceriam depois.

Se todas as áreas envolvidas participam do desenvolvimento de uma solução desde o começo, os processos se tornam mais eficientes e alinhados com os objetivos estratégicos da empresa.

 

Cases de sucesso em gestão de equipes multidisciplinares

No iFood, a inovação acontece por meio do modelo de jet skis, inspirado na Amazon. Enquanto o core business mantém o funcionamento principal da empresa, pequenos times multidisciplinares atuam como jet skis ao redor, explorando novas ideias de forma independente.

Esses times, compostos por pelo menos quatro profissionais de diferentes áreas, têm total autonomia para testar novos produtos e serviços. A abordagem se baseia em experimentação e metodologias ágeis, acelerando a inovação e mantendo a empresa sempre à frente no mercado.

Já a BRF conta com grupos de trabalho multidisciplinares para tratativas de assuntos em frentes estratégicas. Profissionais de operações, qualidade, planejamento e suprimentos trabalham juntos para garantir os mais altos padrões na produção.

6 passos para criar uma equipe multidisciplinar

Como criar uma equipe multidisciplinar?

Montar uma equipe multidisciplinar eficaz vai muito além de simplesmente reunir pessoas de áreas diferentes. Para que a colaboração gere inovação real, é preciso estratégia, planejamento e um ambiente que incentive o trabalho conjunto. 

Aqui está um passo a passo para estruturar um time multidisciplinar de forma eficiente:

1. Identifique as necessidades e objetivos do projeto

Antes de pensar nas pessoas que irão compor a equipe, é essencial entender qual problema precisa ser resolvido. Pergunte-se:

  • Qual o objetivo final do projeto?
  • Quais desafios podem surgir ao longo do caminho?
  • Que conhecimentos e perspectivas são indispensáveis para alcançar os resultados esperados?

Essa análise inicial ajudará a definir quais competências devem estar presentes na equipe e como cada membro poderá contribuir para a entrega.

2. Selecione membros com habilidades complementares

A diversidade de pensamento e experiência é a essência de uma equipe multidisciplinar. Por isso, ao escolher os integrantes, considere habilidades técnicas, soft skills e experiência prévia em colaboração com outros departamentos. O segredo está no equilíbrio.

3. Estabeleça uma cultura de colaboração e respeito mútuo

Mesmo com um time tecnicamente perfeito, o sucesso só virá se houver um ambiente propício à troca de ideias. Para isso defina valores claros, promova encontros regulares para alinhamento e incentive a escuta ativa. 

4. Estruture processos de comunicação eficientes

Uma equipe multidisciplinar exige comunicação fluida para evitar ruídos e desalinhamentos. Algumas práticas que ajudam são estabelecer um canal único de comunicação (como Slack ou outro que faça sentido para a empresa) e criar dashboards ou usar ferramentas de gestão de equipes.

como gerenciar uma equipe multidisciplinar

5. Incentive a experimentação e a tomada de decisão conjunta

Grandes corporações ainda encaram riscos como algo negativo. No entanto, em times multidisciplinares, a experimentação é parte do processo de inovação. Para promover esse mindset, estabeleça um espaço seguro para ideias e testes.

Metodologias ágeis, como Design Thinking ou Scrum, permitem ajustes mais rápidos. Mas também é importante dar autonomia para que o time tome decisões dentro do seu escopo de atuação.

A responsável pela gestão de inovação na Ajinomoto, Juliana Fernandes Okuda, acredita que o melhor caminho é olhar para dentro da própria área de atuação:

“Acredito que escolher desafios que sejam realmente relevantes para a área, a famosa ‘pedra no sapato’, e claro, a área precisa ter alguma verba destinada para um possível rollout, quando existe essa combinação e um time que está afim, a experimentação é consequência do processo de inovação”.

6. Meça o desempenho e ajuste constantemente

Não basta montar uma equipe multidisciplinar e esperar que ele funcione sem ajustes. Algumas formas de monitorar o progresso enquanto ele acontece é:

  • Definir métricas claras, como tempo de entrega, eficiência da comunicação e satisfação dos membros.
  • Ter uma cultura de feedback contínuo.
  • Fazer adaptações conforme o projeto evolui, realocando funções se necessário.

tirando a cultura do papel

Tirando a cultura de experimentação do papel

Inovação não acontece em um ambiente engessado. Se a equipe precisa pedir autorização para cada teste, a criatividade morre antes mesmo de sair do papel. E isso é um grande problema para corporações que querem se manter competitivas.

A cultura de experimentação é o que permite que empresas testem novas ideias, aprendam rápido e ajustem suas estratégias sem desperdiçar tempo e recursos. Dentro de organizações maiores, onde processos rígidos ainda reinam, fazer essa transição exige uma mudança profunda – e pode começar pela implementação de metodologias ágeis.

  • As metodologias ágeis abrem espaço para criatividade

Trabalhar com ciclos curtos, testes frequentes e feedback constante ajuda a reduzir aquela sensação de que qualquer decisão errada vai virar uma bola de neve gigante. Quando o time sabe que pode arriscar, medir e ajustar rapidamente, o medo de errar dá lugar à vontade de acertar. E esse é o segredo na gestão de equipes multidisciplinares: errar pequeno para aprender e crescer grande.

  • Tomar riscos calculados e aprender com falhas não é o fim do mundo

Mas para tudo isso funcionar na prática, a liderança precisa dar o exemplo. Um gestor que só recompensa acertos e penaliza qualquer tentativa frustrada acaba criando um time que joga pelo seguro. E jogar pelo seguro é o caminho mais rápido para a estagnação.

E sim, falhas vão acontecer. Mas falhar não significa perder. Empresas que enxergam o erro como parte do aprendizado conseguem transformar obstáculos em oportunidades de melhoria contínua.

mindset de inovação aberta

As equipes multidisciplinares dependem do mindset para inovação aberta

Se tem algo que já ficou claro, é que inovação não acontece dentro de uma bolha. Quanto mais uma empresa se fecha em suas próprias ideias, mais difícil fica acompanhar o mercado, antecipar tendências e criar soluções realmente disruptivas. 

É aí que entra o conceito de inovação aberta: olhar além das fronteiras da empresa para buscar novas perspectivas, trocar conhecimento e cocriar soluções com outros players do ecossistema, como startups.

Mas não basta apenas “dizer” que está aberta à inovação. A cultura precisa incentivar essa troca de forma ativa e trazer oxigenação para dentro da empresa.

Outro ponto essencial é preparar o time para essa mentalidade, caso contrário, nada sai do papel. Capacitação e treinamentos focados em inovação ajudam a quebrar essa barreira e mostram que qualquer pessoa, independentemente do cargo ou área, pode contribuir para mudanças significativas.

Para a Innovation Manager da Ajinomoto, Juliana Fernandes Okuda, a multidisciplinaridade é uma variável importante para a consolidação da cultura de inovação nas empresas:

“Acredito que seja fundamental, pois do contrário, caso a gente foque nessa ou naquela disciplina, a inovação não se torna parte da cultura. Atualmente, dentro de Ajinolab, atendemos a Ajinomoto do Brasil como um todo, focamos bastante em otimizar processos e melhorar produtividade, mas também em desafios mais pontuais, como os de P&D, Sustentabilidade, entre outros”.

Durante o bate-papo, nós pedimos mais algumas dicas para as empresas que estão entrando no caminho da inovação. Olha só o que ela nos respondeu:

Cubo Itaú: Quais são as principais dicas para quem quer iniciar um trabalho de disseminação da cultura de inovação em uma corporação?

Juliana: No início, é necessário entender porquê e para que a companhia quer inovar, muitas vezes parece óbvio, mas é preciso entender o que está por trás das frases de efeito, o que os heads buscam com isso. Geralmente se busca a inovação quando se nota uma dor, e destrinchar o problema é premissa para projetar boas soluções, isso não é diferente para a intenção de inovar das empresas, visto que essa intenção é uma busca pela solução, sem necessariamente ter gastado tempo no problema.

Cubo Itaú: Como o AjinoLab tem trabalhado em prol da difusão da cultura de inovação para as demais áreas da companhia?

Juliana: O Ajinolab iniciou um programa de embaixadores da inovação, esse programa conta com uma trilha de conhecimento da inovação aberta, e uma trilha prática onde passamos pela identificação do problema, descrição do desafio, scouting, piloto e mensuração de resultado.

São 10 embaixadores de áreas e unidades de negócio completamente diferentes trabalhando na mesma trilha, porém, cada um tratando de um desafio de sua própria realidade, dessa maneira, ao final do programa teremos 10 novos multiplicadores da inovação que estão olhando especificamente para os desafios de suas respectivas áreas.

Cubo Itaú: Quais foram as principais lições aprendidas e melhores práticas observadas nesses casos?

Juliana: Traduzindo em três principais pontos:

Acrescentaria uma frase a mais a essa máxima de que “A inovação é para todos, não é para tudo”, ficaria assim: “A inovação é para todos que realmente querem inovar, não é para tudo". Ou seja: em programas do tipo, é preciso que o embaixador queira estar ali, entenda o valor do que ele está fazendo, pois do contrário, é apenas um sentimento de “mais uma tarefa que eu sou obrigado a entregar”, e com esse mindset, nada acontece.

Acredito que funciona melhor quando o orçamento para piloto seja dividido entre área de inovação e área demandante, é uma maneira de co-responsabilização tanto da execução do projeto, quanto da busca por uma boa entrega.

Na maioria das vezes, vale fatiar problemas muito complexos, e ainda assim ter uma visão dele como um todo, assim é possível trabalhar com fases e prioridades. Muitas vezes nos deparamos com aquela ideia de “ou a startup resolve toda a minha vida, ou não vale pra mim”, e nesse escopo dificilmente encontraremos boas soluções, além do que o piloto vira algo tão grandioso que tudo fica mais complexo e moroso.

No final das contas, ter um mindset de inovação aberta é mais do que adotar novas metodologias – é mudar a forma como a empresa enxerga desafios e oportunidades.

Cubo Itaú é onde cultura de experimentação e inovação aberta se encontram

É exatamente isso que fazemos no Cubo Itaú: criamos um ambiente que conecta grandes empresas e startups para acelerar a inovação de forma colaborativa. 

Nosso propósito é justamente abrir espaço para a troca, testar novas abordagens e construir o futuro dos negócios por meio da experimentação e da multidisciplinaridade, sempre com foco no desenvolvimento da corporação.

Se sua empresa quer transformar ideias em resultados e levar a inovação ao próximo nível, esse é o lugar certo para estar. Vamos juntos?

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