Entre as diversas formas de investimentos para startups está a modalidade de private equity, que pode ser traduzido como ativo privado. Outro modo bastante comum de se referir ao conceito é pela sigla PE.
Apenas no Brasil, as gestoras de private equity investiram no terceiro trimestre de 2023 um total de R$ 3,1 bilhões em 12 operações, de acordo com dados da TTR Data e da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).
Entre os setores que se beneficiaram com investimentos dessa natureza, segundo informações das organizações, estão serviços financeiros (38%) e serviços e produtos ao consumidor (23%).
Apesar de ser um montante volumoso, o número de investimentos desse tipo teve uma queda de 35% em comparação ao terceiro trimestre de 2022. Contudo, a expectativa é aumentar as oportunidades em 2024, fomentando uma maior quantidade de operações em private equity.
Nas próximas linhas, você poderá descobrir mais sobre private equity: o que é, quais são os principais tipos, as principais diferenças entre private equity e Venture Capital e as vantagens de receber aportes financeiros por essa via.
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O que é private equity? Entendendo o conceito
De modo geral, o private equity é uma entre as várias modalidades de investimento que envolve a participação em empresas com alto potencial de crescimento.
As investidas nesta modalidade são empresas que já estão em um estágio mais maduro, buscando expandir ou consolidar o seu negócio.
Para tanto, as gestoras de PE realizam rodadas para levantar fundos de investidores institucionais. Outro perfil que aparece entre o rol de financiadores é de pessoas que têm um alto patrimônio líquido.
Private equity: agregando valor aos negócios
Um dos principais objetivos que direcionam as atividades de organizações e investidores individuais é o de melhorar o desempenho do negócio. Ademais, outro interesse que existe nesse contexto é o de ver seu investimento evoluir e aumentar de tamanho.
Mais do que simplesmente injetar recursos financeiros em um negócio, seja nascente, seja de outra maturidade, o private equity é uma forma de agregar valor às investidas.
Em relação ao último fator, pode acontecer de um investidor individual ou representante de uma gestora atuar de forma direta ou indireta no negócio investido. Entre as ações feitas, estão abordagens estratégicas, alterações nas operações ou mesmo aquelas de ordem financeira.
Exemplo de caso de sucesso em private equity
A ABVCAP regularmente divulga exemplos positivos no que diz respeito a injeção de investimentos via private equity. Em seu último relatório, intitulado “PE & VC Cases Brasil 2019”, a associação divulgou entre os casos públicos de sucesso o da AGV Logística.
Localizada na cidade de Vinhedo, em São Paulo, a AGV é considerada uma das maiores provedoras brasileiras de serviços logísticos 3PL.
3PL se refere à Third Party Logistics ou Operador Logístico Terceirizado. O diferencial da AGV, nos últimos anos, foi a de atuar no modelo asset light, a partir de instalações em locais estratégicos e de uso de caminhões alugados.
De acordo com a ABVCAP, em 2016 a AGV foi contemplada com uma rodada de investimento via private equity no valor de R$ 105 milhões liderada pela Kinea e GEF Capital. No ano seguinte, ocorreu a separação das operações feitas até então.
A medida resultou na criação de duas novas unidades de negócio: AGV Health & Nutrition (H&N), voltada para os segmentos de saúde e nutrição, e a AGV Fast Moving Consumer Goods (FMCG), que corresponde a produtos geralmente comercializados com um custo relativamente baixo, sendo entregues ao consumidor de forma ágil.
Entre os resultados obtidos pela AGV na ocasião do recebimento do private equity estiveram:
- Aumento de 80% de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA).
- Expansão de 8,4 pontos percentuais de margem de lucro, posteriormente multiplicado por 7,8x.
- Geração de caixa operacional.
- Distribuição de R$ 92 milhões em dividendos.
Em 2019, foi feito o desinvestimento na companhia que recentemente foi integrada à marca Solística.
As rodadas de investimento via private equity são excelentes formas de fazer um negócio crescer suas operações. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Principais diferenças entre private equity e venture capital
A seguir, entenda ponto a ponto o que diferencia as modalidades de investimento de private equity e venture capital.
Fase do ciclo de vida
De modo geral, investimentos de capital de risco são feitos em startups e negócios que estão em fase inicial. Ainda, aqueles que têm potencial de crescer de forma rápida também costumam ser visados aqui.
Por outro lado, o private equity tradicional está relacionado a corporações com mais tempo de mercado e que, comprovadamente, geram lucros.
Nível de risco e retorno
Como seu próprio título indica, o venture vapital é um capital de risco. Nesse caso, o investimento pode dar tanto certo quanto errado. Mas, quando é o caso de ter resultados positivos, tendem a ser mais elevados do que em outras formas de investimento.
O private equity, por sua vez, está relacionado a negócios que têm menor risco. O que diferencia é que as possibilidades de retorno são mais consolidadas e tendem a ocorrer ao longo do tempo de uma forma mais consistente.
Objetivos de investimento
Fundos de investimento, bem como investidores focados em venture capital, tendem a mirar em negócios com potenciais altos. Outro ponto que também é observado ao conceder recursos por essa via é do quanto a startup oferece de inovação, em termos de produto e de serviço.
Já os fundos de private equity entendem que o que mais importa na operação de uma companhia madura é a maximização do valor. Isso pode ocorrer a partir da aplicação de estratégias para otimizar um negócio em termos operacional e financeiro.
Os private equity miram empresas com alto potencial de crescimento e expansão. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Vantagens de receber investimento de private equity
O que um negócio busca junto a fundos de investimento ou mesmo investidores individuais é o de ter vantagens que o façam crescer. Independentemente do seu porte ou segmento de atuação.
Entre tais benefícios, estão, mas não se reduzem apenas a:
Acesso a capital
Ao receber uma ou mais rodadas de investimento via private equity, um negócio pode:
- Adquirir outros que tenham fit com seu produto ou serviço.
- Fazer alguma reestruturação necessária.
- Financiar sua internacionalização.
Experiência e valor agregado
É comum que, além do dinheiro, investidores também dediquem seu conhecimento. Ou seja, com toda a experiência, geralmente atrelada ao setor do negócio investido, podem agregar valor.
Esse valor gerado pode ser ao fomentar networking empresarial. É bastante útil não só para dar visibilidade ao negócio, como para potencializar seu crescimento.
Valorização de longo prazo
Quem atua com private equity costuma priorizar retornos que serão obtidos em longo prazo. Dessa forma, toda a estratégia aplicada na organização investida tende a se orientar ao futuro, seja ele próximo, seja distante.
Companhias que receberam investimento de private equity
Tanto no Brasil quanto no exterior existem diversos exemplos de como o investimento via private equity foi fundamental para que as organizações envolvidas obtivessem sucesso. Confira alguns deles na sequência.
Rede D'Or São Luiz
Considerada uma das maiores redes de hospitais privados brasileiros, a Rede D'Or São Luiz recebeu investimento do Carlyle Group em 2015.
Na época, o grupo era responsável por 27 hospitais em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, além do Distrito Federal. Juntos, tinham 4 mil leitos para atendimentos a pacientes.
O capital recebido foi usado para ampliar a infraestrutura da rede, comprar e gerir novos hospitais, bem como modernizar as operações. O grupo está entre os líderes brasileiros no seu segmento de atuação.
Airbnb
Conhecida por ser uma plataforma que permite a locadores e locatários terem acesso a hospedagem compartilhada em todo o mundo, o Airbnb já recebeu investimento via private equity de grandes fundos, como o Andreessen Horowitz.
Em 2011, quando o Airbnb atuava em 16 mil cidades localizadas em 186 países ao redor do mundo, o fundo investiu US$ 60 milhões de um total arrecadado de US$ 112 milhões, em diferentes rodadas.
Os recursos financeiros foram usados para expandir ainda mais a operação. Além disso, por ser uma plataforma digital, o fator tecnológico também foi privilegiado. Outros pontos que foram potencializados com o dinheiro recebido foram no marketing e na ampliação do portfólio de serviços.
PetSmart
Considerada uma das maiores varejistas de produtos voltados para pets nos Estados Unidos, a PetSmart chegou a receber investimento em 2014 do fundo BC Partners. Ao todo, foram alocados via consórcio cerca de US$ 8.7 bilhões em recursos.
No caso da PetSmart, o capital foi utilizado para expandir seu e-commerce, além de aumentar sua linha de produtos. A aquisição de negócios que operam no mesmo segmento também foi um dos objetivos atingidos com o private equity recebido.
A PetSmart é uma das líderes varejistas em seu segmento, tendo como concorrentes indiretos a Amazon e a rede Walmart.
Uber
O serviço de transportes e entregas Uber, fundado em 2009, recebeu investimento de grandes fundos conhecidos ao redor do mundo, como é o caso do SoftBank, que injetou US$ 10 bilhões em 2017 no negócio.
Naquele momento, a Uber estava passando por um momento turbulento, e precisava se transformar no mercado. O dinheiro foi empregado para o crescimento da empresa e sua expansão global.
Como se trata de um aplicativo, os recursos também foram utilizados para o desenvolvimento de tecnologia. No entanto, anos depois, em 2022, o fundo de investimento liquidou sua participação na companhia. Ainda que tenha acumulado prejuízos, a Uber mantém a popularidade em seu segmento de atuação.
Em algum momento da jornada de um negócio, o fundo de investimento pode decidir por se retirar da operação, o que é conhecido como exit. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Desinvestimento: quando os investidores fazem o exit
No private equity, assim como ocorreu com a Uber, há o momento em que um fundo ou os investidores individuais optam por se retirar da operação. Esse movimento é conhecido como “exit”.
Tal evento de liquidez se dá para que a totalidade ou parte do que foi investido na rodada de private equity possa retornar à sua fonte de origem.
O exit é uma forma bastante utilizada pelos fundos para recuperar o que foi investido. Além disso, é necessário para que os investidores que compõem o fundo possam ter lucro.
Geralmente, o exit pode ser praticado quando acontecem uma série de fatores. Entre eles, destacam-se:
Oferta Pública Inicial
Quando a empresa investida resolve abrir o seu capital na bolsa de valores, o famoso IPO, o fundo pode vender suas ações no mercado aberto. Esse exemplo não seria um acontecimento negativo, pelo contrário: indica que o negócio está crescendo e buscando outros acionistas.
Venda para outra empresa
O Trade Sale também pode ser concretizado. É quando o fundo de private equity decide vender sua participação em uma investida para uma organização, que pode ser a concorrência que queira expandir o seu mercado
Venda para outro fundo
Também pode acontecer de um fundo de private equity decidir que é o momento de sair, vendendo sua participação a outro fundo que sinalize esse desejo.
Compra de volta pela empresa
O movimento, chamado de buyback, ocorre quando os sócios do negócio investido desejam recomprar suas próprias ações. Foi o que aconteceu com a Dell, por exemplo.
Venda para investidores institucionais ou privados
Outra modalidade de exit é quando o fundo envolvido decide vender sua participação para investidores institucionais. Entre eles, podem ser citados como exemplos os fundos de pensão ou, ainda, investidores privados.
E o que leva um fundo de private equity a desinvestir? Nesse caso, os seguintes pontos podem ser considerados para fundamentar a decisão:
- Condições de mercado favoráveis.
- Maturidade do investimento.
- Crescimento da investida.
- Pressão dos investidores.
- Necessidades de capital.
Em resumo, o private equity consiste em uma oportunidade excelente para que negócios disponham de capital, além de suporte por meio da experiência dos investidores. Assim, o negócio cresce fortalecido e de forma consistente.
No entanto, para que a oferta de investimento por essa via aconteça, é preciso que o negócio a ser investido tenha sinergia com a abordagem do fundo de private equity. Ou seja, antes de “bater na porta” à procura de recursos, vale estudar o mercado e as oportunidades para ser assertivo em sua busca.
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