Venture capital: o que é e como funciona esse tipo de investimento

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Investimentos são a chave para o crescimento de startups. Uma das formas de levantar capital para impulsionar a empresa é o venture capital (VC). Essa modalidade de captação de recursos acontece por meio do investimento de fundos, que aportam também seu background e apoiam o desenvolvimento da empresa. 

Especialistas no assunto recomendam estudar o mercado e "manter a casa arrumada" antes de correr atrás de investimento. Outra questão importante é pensar: qual é o objetivo ao buscar os recursos?

Neste artigo, vamos explicar o conceito de venture capital e apresentar dicas para quem está atrás de investimentos. Também vamos detalhar como funcionam os fundos e o panorama dessa indústria no Brasil.  

O que é venture capital? 

O venture capital é uma forma de investimento importante para empresas em estágio inicial ou de crescimento. Também conhecido como capital de risco, esse tipo de investimento normalmente acontece em companhias com modelo de negócio repetível e escalável, as startups 

O investimento em venture capital envolve a alocação de dinheiro nas empresas em troca de participação acionária. Normalmente, essa forma de investimento é dividida em etapas, começando pela fase Pré-seed (pré-semente) e Seed (semente).

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é responsável por regular os fundos de venture capital. Eles são constituídos como Fundos de Investimento em Participações (FIP) ou Fundos Mútuos de Investimento em Empresas Emergentes (FMIEE). 

O mercado de venture capital

Após um período desafiador, com uma baixa significativa nos investimentos na modalidade de venture capital, o segundo trimestre de 2023 demonstrou uma retomada, com previsão de aquecimento.

Segundo a plataforma global Carta, o otimismo vem da análise do aumento do valuation, ou seja, os valores liberados pelos investidores. Relatórios mais recentes revelaram ainda um aumento no número de investimentos em startups da América Latina. 

Em junho de 2023, empresas latino-americanas captaram cerca de US$ 441 milhões em 84 rodadas. O relatório gerado pela plataforma Sling Hub, no mesmo período, mostrou ainda que startups na fase seed foram as principais contempladas. A média de investimentos para essas empresas foi de US$ 7 milhões por rodada.

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Imagem de homem usando smartphone. Ao lado, um tablet está posicionado. Um gráfico localiza-se acima do celular.

Investimentos de venture capital são chamados de capital de risco. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Quais são os tipos de fundos de investimento?

Antes de tomar a decisão de onde buscar investimentos, é importante saber que existem diferentes tipos de fundos. Tratando-se de venture capital, cada um deles se difere em objetivo e estratégia. Entre os tipos de investidores estão:

  • Empresas de Capital de Risco (VC Firms)

São gestoras especializadas em investir em startups e empresas em crescimento. Atuam no levantamento de capital com indivíduos e instituições, os chamados Limited Partners (LPs), e trabalham na seleção e gestão das investidas. 

  • Investidores-anjo 

São pessoas que investem recursos próprios em startups e empresas em estágios iniciais. Muitas vezes, esses indivíduos apostam em negócios na fase pré-seed, com o objetivo de ajudar a expandir negócios. Além do capital, eles podem oferecer mentorias e sua expertise.

  • Corporate Venture Capital (CVC) 

Grandes corporações que possuem programas de investimento em startups buscando incorporar inovação e pesquisa. Esses investidores corporativos podem fornecer capital e recursos para startups em troca de participações acionárias e, em alguns casos, colaborar de perto no desenvolvimento de novas tecnologias ou produtos. Esse tipo de investimento também contribui para a reputação de uma empresa em estágio inicial. 

duas mulheres estão sentadas em uma mesa, conversando uma de frente para a outra. Uma delas está segurando um tablet com a mão direita.

Investidores podem ter participação ativa na gestão das empresas em estágio inicial. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Quais são as rodadas de investimento?

As rodadas de investimento se baseiam na maturidade da empresa e visam apoiar seu desenvolvimento e crescimento até a próxima etapa. Por isso, é importante que empreendedores tenham clareza de qual estágio a startup se encontra e em que o capital será investido.

Dependendo do etapa, o recurso pode ser usado para implementar um processo, aumentar a equipe de colaboradores e lançar uma nova solução. Esses são apenas alguns exemplos. 

Conheça-as os tipos de rodada de investimento a seguir:

  1. Pré-seed — este estágio envolve o financiamento inicial, muitas vezes antes mesmo de a empresa ter um produto mínimo viável (MVP). Os investidores nesta fase estão dispostos a assumir um risco substancial e geralmente oferecem um investimento menor.
  2. Seed — nesta fase, a empresa geralmente tem um MVP rodando ou um protótipo funcionando no mercado. Os investidores de "sementes" fornecem capital para ajudar a empresa a crescer, expandir seus produtos e alcançar o mercado inicial. 
  3. Série A — nesta fase, estão as empresas que alcançaram um certo nível de tração e validação do mercado e buscam financiamento da Série A. Os investidores nesta etapa geralmente esperam que a empresa use os fundos para escalar suas operações e expandir seu alcance. 
  4. Série B, C e seguintes — conforme a empresa cresce e se consolida no mercado, ela pode buscar rodadas subsequentes de financiamento para sustentar seu crescimento. A Série B e C envolve quantias consideravelmente maiores de capital e é geralmente direcionada à expansão geográfica, desenvolvimento de novos produtos e consolidação de mercado. 

Qual é a diferença entre private equity e venture capital? 

Private equity e venture capital são duas formas diferentes de obter financiamento, com objetivos e resultados distintos.

O venture capital é mais direcionado para startups e empresas em processo de desenvolvimento e crescimento. É um capital focado em empresas emergentes com ideias promissoras e é comum no setor de tecnologia.

Enquanto isso, o private equity é mais indicado a empresas maduras, consolidadas e estabelecidas que querem recursos para entrar em um novo estágio de crescimento ou reestruturação. Os investidores que atuam nessa modalidade procuram participações majoritárias em empresas de maior porte.

Os recursos investidos, geralmente, são usados para melhorar a eficiência da empresa, expandir operações e aumentar o valor ao longo do tempo. Também é uma forma de empresas estabelecidas conseguirem dinheiro para inovar e acelerar o negócio.

É importante entender a qual categoria sua empresa pertence e escolher a opção de financiamento que melhor se alinha às necessidades e ao estágio de desenvolvimento.  

Como funciona o fundo de investimento?

O mercado de investimentos, como o venture capital, funciona porque há uma retroalimentação que faz a roda girar.  

Investidores dão apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias ao apostarem em empresas em estágio inicial, além de garantir retornos a partir do sucesso dos negócios. Enquanto isso, empreendedores recebem o financiamento necessário para criar empresas que podem virar gigantes, como Google, Apple e outras.

Se você já se perguntou de onde vem o dinheiro, a ABVCAP explica na cartilha Como funciona a indústria de private equity, seed e venture capital.

"Fundos de private equity, seed e venture capital aplicam o dinheiro de terceiros – fundos de pensão, family offices, investidores internacionais, recursos próprios das empresas gestoras, investidores qualificados, agências de desenvolvimento e fomento etc. Investem esses recursos em várias empresas, formando uma carteira de investimentos diversificada. Assim, proporcionam o melhor retorno possível aos investidores, no médio-longo prazo". 

O que esses fundos fazem após captar esses investimentos para gerir é selecionar as startups que serão investidas com base em sua tese.  

a imagem mostra as mãos de um homem que está mexendo no computador e em uma calculadora, simultaneamente. Sugere-se que ele está trabalhando.

Fundos de investimento buscam capital com os chamados Limited Partners (LPs). (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

O que é uma tese de investimento? 

Para conseguir acesso a uma rodada de investimento, é importante que a empresa dê “match” com tese de investimentos do fundo. Neste documento, investidores incluem detalhes a respeito de várias características e elementos específicos que buscam em empresas.  

As diferentes métricas que constam na tese ajudam a dar uma certa previsibilidade do potencial de crescimento. Além disso, é uma forma de identificar e minimizar os riscos associados ao investimento. 

Isso significa que ao estruturar um fundo, a gestora já define o regulamento, o perfil de empresa investida e outros itens que devem ser cumpridos para que o negócio seja efetivado. Confira alguns pontos avaliados na tese de investimento:

  • Equipe empreendedora  

Founders são a cara e a cultura do negócio e este é, muitas vezes, o fator mais crítico. Os investidores procuram empreendedores experientes, com conhecimento amplo e sólido do mercado e da indústria. Não basta experiência, são consideradas ainda habilidades de liderança, resiliência e paixão pelo que estão fazendo.

  • Objetivos com o investimento

Descreve de que forma o dinheiro será investido, qual mercado-alvo deve ser atingido. O que se espera com o investimento, entre outros detalhes de planejamento do uso de recursos.

  • Mercado atrativo  

É importante que a empresa esteja em um mercado promissor. Dados são importantes para convencer investidores, portanto, estudos de mercado, amostragem de clientes em potencial, planos de captação de clientes e personas devem estar alinhados.  

  • Proposta de valor

Qual problema seu produto resolve? Qual é a proposta de valor do seu negócio? Empreendedores devem estar preparados para responder a essas perguntas. Parece óbvio, mas é importante mostrar se a empresa consegue atender a uma necessidade superando os concorrentes. 

  • Tração e validação

Principalmente na fase seed e posteriores, investidores darão preferência a startups que já tenham alguma tração. As métricas podem ser de vendas, usuários, amostras de crescimento ou parcerias estratégicas. São formas de mostrar se o mercado está respondendo positivamente à solução.

  • Inovação tecnológica

Geralmente, investidores de venture capital querem ter acesso a uma tecnologia ou entrar em um mercado inovador. A disrupção é uma forma de atrair investidores, uma vez que tem potencial para causar impacto significativo em suas respectivas indústrias.

  • Modelo de negócios sustentável 

São atrativos a forma como a empresa está constituída, o planejamento para captação de recursos e modelos de negócios escaláveis e sustentáveis. Empreendedores devem deixar claro como planejam gerar receita a longo prazo e alcançar a rentabilidade.

  • Estratégia de saída (exit) 

É importante detalhar quais são os planos e como investidores podem obter retorno sobre seu investimento. Podem fazer parte da estratégia, uma venda, uma empresa maior (aquisição) ou uma oferta pública inicial (IPO).

  • Gestão de riscos 

Investidores avaliam como a startup lida com riscos, incluindo riscos de mercado, operacionais, regulatórios e financeiros. Ter planos de contingência é importante, bem como ter experiência em conhecimento em formas de evitar perdas e danos.

  • Alinhamento de valores 

Alguns investidores também consideram o alinhamento dos valores da startup com sua própria visão e missão. Isso pode ser importante para investidores que têm um foco específico, como impacto social ou ambiental.

  • Pitch e comunicação eficazes

Todos esses diferenciais e métricas só terão impacto com um pitch eficaz. A forma como empreendedores apresentam seu pitch e se comunicam com os investidores faz toda a diferença. É importante desenvolver a capacidade de explicar claramente a visão, o modelo de negócios e a estratégia. 

homem em pé falando com colegas sentados. Ao lado esquerdo dele, há um computador, com tela virada para as pessoas.

O pitch da empresa deve conter métricas que validem o potencial de crescimento dela. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Como se preparar para receber investimentos?

Empresas e startups em estágio inicial nem sempre têm uma estratégia para chegar até investidores. Há também o problema de não saberem quais são os primeiros passos e o que precisa ser ajustado para chamar a atenção no mercado.

A dica aqui é buscar mentores, ouvir pessoas que já receberam investimento e pesquisar sobre o mercado. Há formas que ajudam a consolidar o negócio, construir networking e garantir maior embasamento na hora de buscar o venture capital.

  • Programas de incubação 

Os programas de incubação, normalmente ligados à instituções de ensino, são muito estratégicos para as etapas pré-seed e seed. Eles oferecem uma preparação básica, também ajudam a direcionar o negócio 

Alguns programas garantem financiamento inicial, mentoria e recursos. Eles auxiliam as startups a crescer, ganhar mercado e se preparar para investimentos de venture capital.

Na etapa inicial, alguns programas dão direito a espaço físico compartilhado ou instalações para reuniões com preços acessíveis, economizando dinheiro em aluguel e infraestrutura. Dessa forma a empresa consegue ter uma estrutura física para construir o seu negócio 

  • Aceleradoras

Outra forma de conseguir capital financeiro e apoio no estágio inicial são as aceleradoras. Elas são organizações ou programas que oferecem networking, capital e orientação intensiva a empresas para as ajudar a ter base para crescer. São uma forma de se preparar para enfrentar os desafios do mercado.

As aceleradoras costumam operar em uma lógica mais intensiva que as incubadoras e realizar os investimentos em troca de participação acionária na empresa. A passagem por programas de aceleração são consideradas por investidores de venture capital.

Isso ocorre porque os programas focam a execução rápida de uma solução, produto ou mudança interna. Também é uma forma das empresas adquirirem conhecimento sobre gestão de riscos e sustentabilidade do negócio.

  • Hubs de inovação 

Integrar hubs que reúnem outros empreendedores, corporações, instituições acadêmicas e outros agentes do ecossistema também é uma importante conexão para chegar a investidores de venture capital.

Os hubs são centros para compartilhamento de ideias, conhecimento e oportunidades. A estrutura de integração e colaboração criam um ambiente rico para a inovação. Além de ser um espaço importante de capacitação, de relacionamento com outras empresas e geração de negócios. 

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Networking é um fator fundamental para quem está em processo de captação de recursos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)  

Desafios do venture capital 

À medida que a empresa avança nas etapas e os riscos vão sendo retirados da mesa, os investidores tomam a decisão. Como podem ocorrer diferentes rodadas, é importante que fundadores sigam pensando em como aumentar seu valuation e gerenciem o captable de forma saudável.

Empreendedores devem considerar que a chance de negativa na negociação é muito comum. Isso porque as empresas precisam estar dentro das expectativas de investidores para obter recursos de venture capital.  

Porém, vale a pena se manter antenado a novas oportunidades e a buscar diferentes fundos e modalidades de investimento que podem fazer mais sentido aos objetivos da empresa que busca ser investida.

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