O que é Corporate Venture Capital (CVC) e como ele funciona?

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O Corporate Venture Capital (CVC) é uma das modalidades de investimento em crescimento no Brasil. Esses aportes ajudam corporações a se aproximarem de startups, contribuindo com o crescimento dessas soluções emergentes e acelerando a inovação aberta.

Ivan Yoon, head de Investimento & Portfólio da Wayra Brasil e Vivo Ventures, explica que o investimento gera benefícios tanto para as startups quanto para as corporações, permitindo que ambos os lados cresçam e inovem em seus setores.

"Pelo lado da corporação, a inovação ocorre por meio da colaboração com startups, impulsionada pelo modelo de negócio. Já as startups buscam financiamento para crescer. O CVC permite que elas gerem negócios e contem com especialistas de diferentes áreas de grandes empresas. Essa parceria é benéfica para ambas as partes, oferecendo à startup a relevância necessária e à corporação a possibilidade de atuar com inovação através de um investimento estratégico", explica o especialista. 

Confira a seguir como essa modalidade de investimento funciona, suas principais vantagens para corporações e startups, e o panorama do CVC no Brasil!

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Panorama do Corporate Venture Capital

De acordo com a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), entidade referência no mapeamento deste tipo de investimentos, o cenário está favorável para aportes.

Os CVCs estiveram presentes em 30% do total de investimentos na modalidade de venture capital de janeiro a agosto de 2023, com 57 rodadas. Olhando para o volume de capital investido, a representatividade é de 36% do total.

Os números mais recentes revelam que as corporações são responsáveis pela maioria dos investimentos em tecnologia (49%), seguidos pelo setor de serviços financeiros com 13%, e bens de consumo, com 12% dos aportes. 

Dentre os setores das corporações com fundos, destacam-se: 

  • 39% – serviços financeiros
  • 12% – recursos naturais
  • 12% – bens de consumo e serviços

O panorama global também apresenta números expressivos. Um levantamento produzido pela CB Insights aponta que, em 2022, um montante de U$98,9 bi foi aportado em startups por corporações ao redor do globo, sendo a maioria delas soluções early stage (62%).

a imagem mostra quatro pessoas com roupa social se cumprimentando. Sugere-se a apresentação de pessoas no ambiente de trabalho.

Corporate Venture Capital ajuda a incluir inovação em grandes corporações. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Como funciona o CVC?

Os CVCs ocorrem quando grandes corporações abrem programas de investimento em startups. Há diferentes tipos de tese que envolvem aportes financeiros e/ou troca de expertises, visibilidade no setor e até mesmo acesso a ferramentas, entre outros recursos. Os acordos geralmente preveem troca de participações acionárias.

Assim como o Venture Capital tradicional, o investimento é de risco. Pode ser que o dinheiro não apareça após um contrato e o retorno é a longo prazo. No entanto, é uma forma importante de conseguir acelerar o acesso à inovação e às tecnologias.

Companhias que criam unidades de CVC identificam oportunidades de investidas no mercado, de acordo com diretrizes estratégicas, e com a concretização do investimento, passam a acompanhar a evolução da startup.

Uma pesquisa produzida pela ABVCAP aponta que as principais alavancas estratégicas do CVC para as corporações são o acesso a rede de fornecedores e acordos comerciais por meio das startups, além de acesso à pesquisa e desenvolvimento ou conhecimento técnico.

Vantagens do Corporate Venture Capital

Além de apoiar o desenvolvimento e crescimento de soluções de base tecnológica, colaborando com a evolução do ecossistema de empreendedorismo tecnológico, o CVC traz uma série de benefícios diretos para as corporações.

Conheça os principais deles, elencados pela ABVCAP:

  • Insights estratégicos sobre tecnologias, mercados e modelos de negócio;
  • Acesso a opcionalidade por meio da criação de novos negócios e M&A’s;
  • Engajamento comercial;
  • Mudança de cultura (fomento à inovação);
  • Aprimoramento da marca corporativa com posicionamento em inovação e apoiando a atração de talentos.

Como começar a implementar o CVC

Para o head de Investimento & Portfólio da Wayra Brasil e Vivo Ventures, a companhia precisa ter uma visão estratégica muito clara do que quer e onde ela quer chegar no futuro, em médio e a longo prazo.

“Isso pode partir de uma experiência da alta administração levando propostas para o Conselho de Administração. E aqui estou falando da estratégia de longo prazo da companhia em relação ao crescimento do core business, negócios adjacentes ou novos negócios, de forma orgânica ou inorgânica. Normalmente, são áreas de planejamento estratégico e Novos Negócios que estão discutindo constantemente o futuro da companhia”, ressalta Yoon. 

A corporação pode contar ainda com a ajuda de consultorias estratégicas, para discutir e explorar quais são as possibilidades com mais potencial para a companhia. 

“Existem muitas metodologias usadas para que as companhias observem dentro do core business, o que está na adjacência do negócio e o que poderia causar uma ruptura no negócio em que a empresa atua. Tem pontos de curto a longo prazo a serem avaliados”, reforça o head de Investimento & Portfólio. 

Isso porque o venture capital também olha para necessidades de curto prazo, além do médio e longo prazo. “São investimentos pequenos que podem ser explorados para horizontes de inovação H1 e H2 (desenvolvimento de novos produtos ou serviços dentro do mercado adjacente) e H3 (criação de novos negócios)”, explica Yoon. 

Em paralelo, há ainda o Mergers and Acquisitions (M&A), fusões e aquisições em tradução livre, que também trabalha com soluções próximas do core business ou das adjacências que podem ser compradas e investidas de forma mais agressiva para mudar a companhia.

duas mulheres caminham em meio a um escritório, lado a lado. A moça  ao lado esquerdo segura uma folha. A outra, segura com a mão esquerda um celular.

A visão de longo de futuro da corporação é fundamental para a estratégia de CVC. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Fundamentando a estratégia de CVC

Depois da estratégia desenvolvida, da alta administração e o Conselho de Administração da companhia terem comprado a ideia, é preciso entender quais são os caminhos e as teses de investimento.

“A partir desse ponto, entram em ação as equipes de trabalho internas que atuarão no desenvolvimento da tese de investimento. Ou seja, são times orgânicos, de core business e outras equipes da empresa. Essas pessoas vão atuar com o projeto orgânico tentando internamente explorar aqueles projetos de novos negócios”, pontua o head de Investimento & Portfólio. 

A provocação pode partir da área de venture capital da companhia, mas é necessário ter uma visão mais macro para que o CVC faça parte da estratégia como um todo.

“Normalmente, o que acontece é a alta administração iniciar o processo e ir cascateando tarefas e missões internas, com metas, inclusive. O venture capital tem o objetivo de olhar sempre para o futuro com um horizonte H3”, sinaliza Yoon.

Quais são os setores mais avançados no mercado de investimentos?

Alguns setores têm se destacado na criação de iniciativas de CVC, do lado das corporações, e sido contemplados nas teses das corporates, pensando em startups, de acordo com suas necessidades.

“Nas corporações mudam muito as demandas, principalmente porque cada uma tem o seu core business. Então estamos falando de bancos que precisam de serviços financeiros e estruturas voltadas a esses serviço, com uma dinâmica específica. 

Já na indústria, o mindset é completamente diferente. Estamos falando de fábricas de ativos mobilizados, de processos de produção, dias de produção, dias de estoque para levar para redes de distribuidoras até chegar no consumidor final.

Enquanto isso, em e-commerce e outros serviços mais próximos do consumidor e focados em melhorar a sua experiência, a inovação precisa ser constante. A mudança é rotineira”, pontua Yoon.

O que as startups precisam ter para conseguir um CVC?

De modo geral, os fundos de CVC não costumam apostar em startups sem um Minimum Viable Product (MVP) ou Produto Mínimo Viável. É preciso que a empresa tenha um produto validado, por isso os aportes normalmente são dedicados a empresas que estão entre as fases seed e série B. Além disso, é importante que o produto esteja alinhado às demandas da corporação. 

Sobre critérios específicos que as companhias costumam avaliar, Yoon destaca:

  • Time de fundadores;
  • Produto;
  • Tamanho do mercado;
  • Diferenciais competitivos;
  • Crescimento.

Vale ressaltar, no entanto, que o Corporate Venture Capital é uma das modalidades de investimento de risco. Existem, por exemplo, os investidores-anjo, que apostam em startups com a ideia inicial, e fundos com teses voltadas para quem já está na fase de finalização do produto. 

papéis com gráficos e indicadores de negócio.

Vários critérios são avaliados pelos CVCs antes do investimento. (Fonte: Pixabay/Reprodução)

Diferença entre o CVC e o M&A

Embora ambos possam fazer parte da estratégia macro de companhias, o M&A e o Corporate Venture Capital ocorrem de formas diferentes e têm propósitos distintos.

Yoon explica que no M&A, a incorporação acontece 100% porque o negócio investido é tão estratégico para a companhia que ela está disposta a comprar totalmente o capital daquela startup. Por isso, existe uma conexão que trabalha a incorporação da cultura e de outros processos.

Já o corporate venture capital é diferente. “É um investimento minoritário, de risco e, por isso, a participação é menor. O que se busca é aproximação de startups que são mais relevantes para o segmento e que tenham vantagens, como oportunidades de gerar negócios. Pode ocorrer de eventualmente aumentar a participação no futuro”, reforça o especialista. 

Isso significa que a corporação aposta no empreendedor e em sua capacidade de escalar o negócio e ter um crescimento exponencial. O founder continua sendo o dono da empresa e com potencial de ganho ao longo do contrato. Ao contrário do M&A, em que a aquisição é de 100% ou do controle da companhia, e o fundador da startup tem o incentivo de pegar o dinheiro e ir embora, sem a necessidade de entrar para a companhia.

uma mulher está em pé, segurando papéis. Ela está olhando atentamente para eles, indicando a ação de análise de alguma informação.

Startups podem ser investidas por CVCs ou adquiridas pelas companhias por meio do M&A. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Exit do CVC

Os contratos de CVC nem sempre têm um prazo de término. No venture capital tradicional, há fundos de dez anos de vida, por exemplo, com contratos divididos em cinco anos de investimento e outros cinco de desinvestimento.

“No Corporate Venture Capital não tem esse limite de tempo, o investimento é realizado principalmente para poder extrair sinergias. Mas bons exits justificam também a criação de novos fundos dentro da corporação, então, não podemos deixar de olhá-los”, ressalta Yoon.

Futuro do corporate venture capital

O head de Investimento & Portfólio da Vivo e Wayra Brasil percebe um horizonte promissor para o CVC.

“O venture capital se provou como uma classe de ativo bastante rentável, mesmo não sendo aberta ao público. Normalmente são as startups que escolhem quem vai investir nela e não o contrário. No entanto, é uma modalidade que chegou para ficar. Cada vez mais há novos fundos surgindo, o tamanho deles está crescendo. As corporações também estão apostando mais nesse investimento”, pontua. 

Para Yoon, o amadurecimento das corporações na estratégia tem beneficiado também as startups. “O que tem mudado bastante, hoje, é que as corporações estão muito mais maduras em relação à autonomia das startups. Muitas das corporates permitem que elas possam trabalhar com competidores, desde que não haja nenhum acordo de exclusividade. Além disso, startups que antes ficavam inseguras em se associarem a empresas mais tradicionais agora estão enxergando cada vez mais valor em CVC”. 

As vantagens para as soluções envolvem desde a contribuição com expertise dos investidores para o negócio até a diminuição de custo de aquisição de clientes.

a imagem mostra uma mulher em pé, segurando um tablet com as duas mãos. Ela está em um escritório, com a tela de frente para seu rosto.

O CVC ajuda as corporações a se aproximarem das startups. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Inovação aberta e oportunidades 

Ao adotar a inovação aberta, as corporações colaboram com parceiros externos, não apenas startups, mas também universidades, institutos de pesquisa, entre outros, para cocriar soluções inovadoras.

Por meio de CVCs, as empresas vão além do modelo tradicional de inovação, no qual a pesquisa e desenvolvimento são realizados internamente, e se utilizam dessas parcerias para além das fronteiras da corporação para conquistar melhorias em competitividade, otimização de processos e oferta de novos produtos e serviços.

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