Curva de inovação: o que é e como funciona na prática
O conceito de curva de inovação, ou Lei de Difusão da Inovação, diz respeito ao processo de adoção de novas ideias e tecnologias.
Compreender a dinâmica da aceitação da inovação é fundamental para as empresas em um contexto em que ela é essencial para manter a competitividade e relevância no mercado.
Por isso, elaboramos este artigo para explicar o que é a curva de inovação, seus estágios e oferecer dicas para entender como ela pode orientar ações no contexto corporativo.
Leia mais:
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- Inovação só é possível com colaboração
O que é curva de inovação?
Para descobrir e se aprofundar em torno do conceito de curva de inovação, é válido recorrer à Teoria da Difusão da Inovação, postulada em 1962 pelo sociólogo norte-americano Everett Rogers.
Tal teoria se refere a como uma nova ideia, produto ou tecnologia é adotada ao longo do tempo por um grupo específico de pessoas ou de mercado. Entre os exemplos possíveis de serem citados no que diz respeito às tecnologias emergentes está a Inteligência Artificial (IA), recurso que vem sendo amplamente utilizado não só no meio corporativo, mas também no social.
Desse modo, a curva de inovação representa de forma visual, por meio de um gráfico, a taxa de adoção e de aceitação da inovação. Para tanto, é preciso considerar o decorrer de um determinado período para avaliar como o que é considerado inovador passa a ser percebido e adotado por parte da sociedade.
Origem da Teoria da Difusão da Inovação
A Teoria da Difusão da Inovação, geralmente associada ao conceito de Difusão de Inovações (DOI), emergiu em um contexto bastante específico.
A década de 1960 pode ser compreendida como um período de intensa transformação social, econômica e tecnológica. Não apenas nos Estados Unidos como também em diferentes partes do mundo.
Na época, era crescente o interesse da sociedade global em entender como as inovações se espalham e são adotadas por diferentes grupos sociais e comunidades.
Tal questão é facilmente comprovada pela quantidade de movimentos pela busca de direitos e pelo avanço tecnológico-científico que ocorreram a partir da dessa década. Entre eles, podem-se citar os seguintes para ilustrar:
- Revolução digital: sobretudo a partir de 1970, foi marcada pelo desenvolvimento e popularização da internet, dos telefones celulares e de outras tecnologias digitais. Inteligência artificial, Big Data, biotecnologia e robótica foram algumas das inovações resultantes.
- Movimento ambientalista: intensificado para coibir a poluição industrial, destruição do meio ambiente e preocupações com a saúde humana. Entre os marcos derivados dessa iniciativa estão a criação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) em 1970 e a Convenção sobre o Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992.
- Movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos: teve a intenção de acabar com a segregação racial e garantir direitos civis iguais para os afro-americanos. Sua principal liderança foi Martin Luther King Jr. e culminou com a aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1964 e da Lei de Direito de Voto de 1965.
- Movimento pelos direitos das mulheres: que alertava sobre a desigualdade de gênero e à discriminação contra as mulheres em várias esferas da sociedade. Como resultado, foi publicada a emenda dos Direitos Iguais nos Estados Unidos — a ERA, sigla para Equal Rights Amendment — em 1972 e a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) das Nações Unidas em 1979.
- Movimento pelos direitos LGBTQIAPN+: que ocorre ao longo das últimas décadas como uma forma de lutar pelos direitos e reconhecimento igualitário para lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e outras identidades de gênero e orientações sexuais.
Foi nesse contexto que o sociólogo Everett Rogers passou a se interessar em compreender mais a fundo porque algumas inovações se espalhavam rapidamente enquanto outras encontravam resistência ou demoravam a ser adotadas.
Como a Teoria da Difusão da Inovação foi desenvolvida
Dessa forma, Rogers conduziu pesquisas empíricas, estudando diversos casos de inovações em diferentes contextos. Incluem-se, aqui, comunidades rurais, organizações e sistemas de saúde.
Para enriquecer seu debate, o autor se pautou em uma abordagem multidisciplinar. Sua pesquisa relacionou áreas como Sociologia, Psicologia, Antropologia e Ciências Econômicas.
A partir do seu estudo pioneiro, foi publicado em 1962 o livro Diffusion of Innovations. Na ocasião, Rogers identificou fatores-chave que influenciam o processo. Ele percebeu que a adoção da inovação segue um padrão previsível e passa por estágios distintos, desde os primeiros adotantes até chegar à maioria da população.
A Teoria da Difusão da Inovação até hoje fornece contribuições para diferentes áreas do conhecimento, como são os casos do marketing, da administração, do desenvolvimento comunitário, de políticas públicas e da própria tecnologia.
A partir de tal teoria, é possível usar um modelo conceitual robusto para entender e prever o comportamento de adoção de inovações. Assim, organizações e governos podem desenvolver estratégias mais eficazes para fomentar a aceitação de novas ideias e tecnologias.
Elementos da curva de inovação
Para que aconteça, a curva de inovação é influenciada por alguns elementos. São eles:
Inovação
A natureza da própria inovação, como é percebida, sua compatibilidade com as necessidades existentes e sua facilidade de uso são fatores que desempenham um papel crucial para determinar a velocidade e a extensão de sua adoção.
Disseminação
Como a inovação é comunicada influencia diretamente na velocidade de sua adoção. Incluem-se, aqui, ações de publicidade, o marketing boca a boca, demonstrações práticas, entre outros métodos de comunicação.
Distribuição
A facilidade com que as pessoas podem acessá-la igualmente afeta sua adoção. Dessa forma, é preciso, para além de desenvolvê-la, encontrar formas de distribuí-la eficientemente.
Contexto
Fatores sociais, culturais e econômicos desempenham um papel importante na adoção de uma inovação, seja ela qual for.
Desse modo, normas sociais, valores culturais e condições econômicas podem orientar a forma como as pessoas percebem e adotam novas ideias ou tecnologias.
O estudo que culminou a ideia em torno da curva de inovação surgiu em um contexto global e social marcado por fortes transformações e movimentos. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Estágios e perfis comportamentais do processo de adoção de novas ideias
O processo de adoção da DOI ocorre a partir dos seguintes estágios e perfis de negócios e indivíduos:
Inovadores
Sejam pessoas, sejam negócios, são os primeiros a adotar uma nova ideia ou tecnologia. Geralmente são entusiastas, dispostos a correr riscos e a experimentar novidades.
Adotantes iniciais ou pioneiros
Os early adopters são indivíduos que adotam a inovação logo após os inovadores. Costumam ser influentes em suas comunidades e respeitados por sua opinião.
Maioria inicial
Representa a maior parte da população que adota a inovação depois dos adotantes iniciais. É comum a característica de observarem cuidadosamente os resultados obtidos pelos primeiros adotantes antes de decidir aderir à inovação.
Maioria tardia
Assim como há a inicial, existem os “desconfiados”, por assim dizer. Este grupo é o mais cauteloso em relação à adoção da inovação.
Por isso, é comum que adotem ideias e tecnologias consideradas inovadoras apenas após a maioria da população já ter “entrado na onda”. Eles confiam principalmente na opinião dos outros para tomar uma decisão, independentemente de quem for.
Retardatários
São os últimos a adotar qualquer tipo de inovação, justamente por serem considerados tradicionalistas. Consequentemente, são os mais resistentes à mudança.
E por que considerar esses perfis no processo de curva de inovação? Para implementar a curva de inovação na prática, é importante entender como ela é percebida no mercado.
Depois de observar o comportamento das pessoas em relação a uma inovação, fica mais fácil adaptar as estratégias para sua execução dentro do ambiente corporativo.
Somente após essa avaliação inicial, parte-se para a ação. É quando se coloca em prática tarefas que envolvam comunicação, marketing e distribuição de acordo com os diferentes estágios de adoção. Em resumo, é preciso:
- Identificar os inovadores e adotantes iniciais e envolvê-los como defensores da inovação.
- Criar mensagens de marketing e campanhas de comunicação que ressoem com os diferentes segmentos da população em cada estágio de adoção.
- Oferecer suporte e incentivos para os retardatários, removendo barreiras à adoção e demonstrando os benefícios da inovação.
- Monitorar constantemente o progresso da adoção e ajustar as estratégias conforme necessário para garantir uma adoção mais ampla e rápida da inovação.
Logo, ao compreender e aplicar os princípios da curva de inovação e da Teoria da Difusão da Inovação, os executivos podem desenvolver estratégias mais eficazes para lançar e promover novos produtos ou ideias no mercado.
Exemplo de curva de inovação. (Fonte: sphweb.bumc.bu.edu/Reprodução)
Como a curva de inovação pode ser percebida no ambiente corporativo
Ao direcionarmos nosso olhar à cultura organizacional, a adoção da inovação pode ocorrer de várias maneiras:
Cultura de inovação
Primeiramente, para que a inovação seja uma realidade dentro de uma organização, é preciso “respirá-la” de alguma forma. As pessoas que fazem parte do negócio entendem facilmente que ali os processos inovadores podem nascer e se desenvolver.
Ou seja, para promover a inovação é essencial manter uma cultura organizacional que valoriza a criatividade, a experimentação e a busca por soluções novas e melhores.
E para que cada um desses componentes se torne realidade, as lideranças devem agir para estimular a colaboração, o pensamento “fora da caixa” e a disposição para correr riscos calculados.
Processos de inovação
Entre os fatores que podem ajudar a garantir que a inovação seja conduzida de maneira eficiente e eficaz, estão:
- estabelecer processos formais para gerenciar o ciclo de vida da inovação;
- gerar ideias que sejam consideradas disruptivas;
- implementar e comercializá-las.
Para tanto, métodos como design thinking, desenvolvimento ágil e gestão de projetos inovadores podem contribuir na operacionalização dos processos de desenvolvimento da inovação.
Investimento em P&D
Alocar recursos financeiros e humanos para atividades de P&D é fundamental para fomentar a inovação dentro das corporações. Assim, para pôr em prática, vale criar laboratórios de pesquisa, manter parcerias com instituições acadêmicas e contratar talentos especializados.
Colaboração e parcerias
Trabalhar com startups, outras corporações, instituições de ensino superior e de pesquisa pode fornecer acesso a novas ideias, tecnologias e recursos que impulsionam a inovação.
Portanto, manter parcerias estratégicas contribui para acelerar o desenvolvimento e a adoção de inovações.
Feedback dos clientes e do mercado
Ouvir o que as pessoas têm a dizer também pode ser uma excelente oportunidade de “surfar na onda” da curva de inovação. Desse modo, coletar feedbacks dos clientes e estar atento às tendências do mercado ajuda a identificar oportunidades de inovação.
Ao mapear iniciativas inovadoras, fica mais fácil adaptar suas estratégias de acordo com as necessidades e demandas de clientes.
Liderança e patrocínio
Obviamente que, dependendo do tamanho e da quantidade de recursos financeiros de um negócio, buscar apoio e o comprometimento da alta administração são essenciais para promover uma cultura de inovação.
Dessa forma, garante-se que os recursos necessários sejam alocados para iniciativas inovadoras.
Aprendizado contínuo
De todo modo, é preciso manter em seu norte que a inovação é um processo contínuo e iterativo. Nesse sentido, as corporações devem estar abertas a experimentar, aprender com os erros e ajustar suas abordagens ao longo do tempo.
Somente assim será possível permanecer competitivo e relevante em um ambiente de negócios em constante transformação como é o vivido na atualidade.
Ouvir clientes e estimular o lifelong learning entre seus talentos também contribui para gerar um clima propenso a iniciativas de inovação nas organizações. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Contexto da inovação em nível global
Uma pesquisa internacional amplamente reconhecida que examina a adoção de processos de inovação no ambiente corporativo é o Innovation Union Scoreboard (IUS), publicado pela Comissão Europeia.
O relatório em questão fornece uma análise abrangente do desempenho de inovação dos países da União Europeia, bem como de outras nações parceiras. Para tanto, o levantamento é pautado em indicadores quantitativos e qualitativos.
O IUS avalia a performance de inovação dos países em áreas como investimento em P&D, colaboração público-privada, infraestrutura de inovação, patentes, publicações científicas, entre outros indicadores.
A última edição do estudo, lançada em 2023, apresentou algumas estatísticas que contribuem com a discussão e ajudam a elucidar em “que pé está” o desenvolvimento da inovação em escala global:
- A Dinamarca foi considerada o país inovador com melhor desempenho na UE. Chegou a ultrapassar a Suécia que manteve a liderança por anos a fio. Outros líderes em inovação são a Suécia, a Finlândia, os Países Baixos e a Bélgica.
- Áustria, Alemanha, Luxemburgo, Irlanda, Chipre e França foram considerados fortes inovadores, com desempenho acima da média.
- Estónia, Eslovénia, Itália, Espanha, Malta, Portugal, Lituânia, Grécia e Hungria foram considerados países inovadores moderados.
- Croácia, Eslováquia, Polónia, Letónia, Bulgária e Roménia foram apontados como inovadores emergentes.
Em resumo, entende-se que a adoção da inovação requer uma abordagem holística que envolva todos os níveis da organização, desde a cultura e os processos até o investimento em recursos e parcerias estratégicas.
Nesse sentido, ao priorizar e promover a inovação, as corporações podem impulsionar o crescimento, a competitividade e a sustentabilidade a longo prazo.
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Referências: