Inovação radical: o que é e como implementar

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O conceito de inovação é vasto e incorpora uma série de facetas. Uma delas é a inovação radical. 

Em contraste com a inovação incremental, a radical envolve a criação de algo considerado totalmente novo e que seja disruptivo em seu segmento.  

Assim, tem a possibilidade de transformar profundamente todo um nicho de mercado ou mesmo uma indústria.  

Entenda a seguir o conceito e conheça os principais passos para implementá-lo em empresas. Boa leitura! 

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Conceito de inovação radical 

O economista e cientista político austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) introduziu o conceito de "destruição criativa". Segundo ele, esse pode ser considerado um dos pilares do desenvolvimento econômico. E, para que a destruição criativa aconteça, a inovação radical é fundamental. 

Assim sendo, para Schumpeter, a inovação radical não se limita apenas à introdução de novos produtos ou tecnologias em um mercado ou mesmo em uma indústria. Nesse sentido, sua criação não deve ter sido apenas pautada em algo que já existe e que apenas foi modificada em pequenos detalhes. 

Para o austríaco, a inovação radical está relacionada à criação de algo totalmente novo e disruptivo, que pode transformar radicalmente os padrões de produção, consumo e organização econômica. Assim, essa modalidade de inovação tem o poder de desafiar os modelos existentes de negócios, abrindo espaço para novas indústrias e reconfigurando o panorama competitivo. 

Schumpeter avaliou que os empreendedores são aqueles que impulsionam o processo de destruição criativa, por meio de suas atividades que, via de regra, são vistas como inovadoras. Desse modo, eles não apenas melhoram os processos existentes, mas também criam novas formas de fazer negócios que “perturbam” a ordem econômica estabelecida. 

Ou seja, a inovação radical pode ser compreendida como uma força dinâmica que sustenta o progresso econômico ao longo do tempo. Nesse ensejo, ela muda continuamente o curso da atividade econômica e transforma a sociedade como um todo. 

O dilema da inovação 

Schumpeter não foi o único autor clássico a discutir o conceito de inovação radical. Outros, mesmo no tempo presente, também o fizeram. Foi o caso do então professor do curso superior de Administração na Harvard Business School, Clayton Christensen (1952-2020). Em O dilema da inovação, ele explorou o termo e sua dinâmica dentro das empresas.  

Christensen argumentava que a inovação radical muitas vezes ocorre fora do radar das empresas, inicialmente atendendo a mercados menores ou que não eram atendidos. Assim, para o autor, esse tipo de inovação tem a característica de ser disruptiva. 

Nesse cenário, a inovação disruptiva é configurada pela introdução de produtos ou serviços que são inicialmente inferiores aos existentes em termos de desempenho. No entanto, eles oferecem vantagens, como conveniência, acessibilidade ou simplicidade.  

Essas inovações tendem a surgir em mercados de nicho ou em segmentos menos lucrativos. Neles, as demandas dos clientes não são completamente atendidas pelas soluções existentes. 

Um aspecto crucial da inovação disruptiva é que, ao longo do tempo, essas soluções melhoram sua performance e começam a atrair uma base de clientes mais ampla, que vem das empresas estabelecidas.  

Isso ocorre porque os negócios consolidados geralmente estão focados em atender às demandas dos clientes existentes e proteger seus modelos de negócios estabelecidos. E é aí que as empresas nascentes, como as startups, conseguem surpreender e abalar as estruturas do status quo. 

Assim, líderes das corporações de fato preocupados em se manter relevantes com o passar do tempo e permanecerem competitivos, precisam estar atentos às oportunidades potenciais e adotar uma mentalidade de inovação contínua. Mesmo se isso significar desafiar suas próprias práticas e modelos de negócios. 

A imagem apresenta as mãos de algumas pessoas, que montam um quebra-cabeça em forma de lâmpada amarela. O tema do artigo é inovação radical.A inovação radical geralmente surge em mercados considerados pequenos e, portanto, de menor destaque. Mas que, ao viralizar, podem gerar nossas tendências. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Principais características da inovação radical 

A partir dos escritos de Schumpeter e Christensen, é possível notar que a inovação radical possui alguns elementos facilmente identificáveis, ainda que não se limitem apenas aos que serão descritos na sequência: 

Transformação disruptiva 

A inovação radical tem o poder de alterar profundamente a forma como os produtos são concebidos, produzidos, comercializados ou consumidos. 

Novos paradigmas 

Esse tipo de inovação também introduz novos modelos de negócios, tecnologias ou conceitos que desafiam as convenções existentes. 

Alto risco e incerteza 

Geralmente, a inovação radical envolve um alto grau de incerteza e risco, pois explora territórios desconhecidos. 

Impacto prolongado 

Tudo que nasce a partir da inovação radical pode ter um impacto duradouro e significativo no mercado, redefinindo padrões da indústria. 

Exemplos para entender a inovação radical na prática 

Para facilitar ainda mais a compreensão sobre o tema, vale observar como tecnologias, antes consideradas muito à frente do seu tempo, conseguiram moldar o mercado à sua maneira. 

iPhone 

Esta lista não poderia ser iniciada sem o smartphone que conquistou uma legião de fãs e que conseguiu moldar o modelo e a forma como as pessoas usam a telefonia móvel. 

A introdução do iPhone na indústria de smartphones revolucionou o setor ao combinar telefone, reprodutor de música e internet em um único dispositivo. Desenvolvido pela Apple Inc. e lançado em 2007, o telefone foi impulsionado pela visão de seu criador, Steve Jobs, que desejava criar algo revolucionário com a capacidade de reinventar a experiência do usuário. 

O iPhone foi lançado em um momento em que os telefones celulares ainda eram principalmente dispositivos para chamadas e mensagens de texto, com funcionalidades limitadas de internet.  

Lembra do teclado alfanumérico que ainda existia em grande parte dos aparelhos? Dispositivos como o BlackBerry e o Palm Treo ainda dominavam o cenário e ninguém ousava imaginar que algo sem esse recurso conseguiria desbancar os então queridinhos de seu nicho. 

Foi quando Jobs e seu time de profissionais lançaram o iPhone, que revolucionou seu segmento de mercado de várias maneiras: a primeira delas, foi o design inovador, elegante e minimalista. Até então, não era concebível um telefone móvel que ostentasse apenas uma tela sensível ao toque. 

Justamente pela forma como foi projetado, o iPhone chamou a atenção ao apresentar ao mercado uma interface intuitiva. O iOS, sistema operacional exclusivo usado no aparelho, trouxe uma interface inovadora, com gestos de toque intuitivos e uma experiência de usuário simplificada. 

Outro grande fator positivo do dispositivo é que o iPhone foi um dos primeiros a oferecer uma experiência de navegação na web verdadeiramente funcional. Dessa forma, os usuários poderiam acessar sites completos em vez de versões móveis simplificadas. 

E como se não bastasse tanta inovação, veio também o lançamento da App Store. Ela permitiu que os desenvolvedores criassem e distribuíssem aplicativos para o dispositivo, expandindo suas capacidades. A medida converteu o aparelho em uma plataforma versátil com uma variedade de usos. 

Ainda que outros celulares já tivessem uma integração multimídia, foi o iPhone que realmente conseguiu inovar seu uso. O aparelho, como ainda hoje é feito, combinava recursos de telefone, reprodutor de música, câmera e navegador da web, sendo alçado à posição de um pequeno computador móvel. 

No geral, o iPhone não apenas transformou o segmento de mercado de smartphones, mas também influenciou profundamente a indústria de tecnologia como um todo. Dessa forma, definiu novos padrões para design de produtos, experiência do usuário e inovação tecnológica. 

Tesla Motors 

Saindo do setor de telefonia para o de mobilidade urbana, é hora de entender de que forma a Tesla desafiou a indústria automobilística ao introduzir carros elétricos de alta performance e tecnologicamente avançados. Mais do que isso: a corporação conseguiu mudar as percepções sobre veículos elétricos e sustentabilidade. 

Os veículos da montadora Tesla foram criados com uma visão disruptiva. O grande objetivo de seus líderes era fornecer ao mercado automóveis elétricos de alta performance, combinando tecnologia de ponta, design inovador e sustentabilidade ambiental. 

A organização foi fundada em 2003 por Martin Eberhard e Marc Tarpenning, com Elon Musk assumindo um papel importante logo depois, liderando a empresa em direção à sua missão ambiciosa. 

Apesar disso, o primeiro veículo da Tesla, o Roadster, foi lançado 5 anos depois, em 2008. A ideia foi baseada no chassi de um Lotus Elise. E diferente do que foi alegado à época, de que o Roadster era apenas uma versão convertida do Lotus, o veículo apresentava um trem de força elétrico totalmente novo, proporcionando uma combinação de desempenho e eficiência. 

A Tesla promoveu uma verdadeira revolução em seu segmento de mercado ao oferecer modelos que desafiam a percepção de que carros elétricos são lentos e com baixa autonomia. Exemplares como o Model S e o Model 3 passaram a oferecer aceleração de alto desempenho e uma autonomia que rivaliza com os veículos movidos a combustível fóssil. 

Os veículos da montadora são conhecidos por sua tecnologia avançada e recursos de software inovadores. Isso inclui o Autopilot, sistema de assistência ao motorista que oferece recursos de direção semiautônoma, e atualizações de software over-the-air (OTA) que continuamente melhoram a experiência do usuário. 

Outra inovação radical que a corporação fez em seu mercado foi a de criar uma rede de carregamento supercharger. A companhia criou uma extensa rede de estações de carregamento que permite o abastecimento rápido em viagens de longa distância. Essa infraestrutura ajudou a mitigar a ansiedade de autonomia, tornando os trajetos mais práticos. 

E, tal como o iPhone, o design inovador e sustentável é outra inovação presente nos veículos da Tesla. Esse fator não apenas atrai os consumidores, mas também reflete o compromisso da empresa com a proteção ao meio ambiente, inspirando o aparecimento de novas montadoras de veículos elétricos. 

A imagem apresenta uma mão de um homem negro, que manuseia um iPhone. Ele está tomando um café, mas não é possível ver o rosto da pessoa. O tema do artigo é inovação radical.Inventos como o iPhone e os carros elétricos e semiautônomos da Tesla Motors são frutos da inovação radical. (Fonte: Getty Images/Reprodução) 

Implementando a inovação radical nas organizações 

Depois de entender a teoria a partir das referências clássicas, compreender as características e exemplos da inovação radical, chegou a hora de entender como ela pode ser aplicada na prática. Para tanto, alguns passos precisam ser levados em consideração dentro da sua corporação: 

Cultura de inovação 

Para que qualquer um dos diversos tipos de inovação possa surgir em sua organização, é necessário antes “preparar o terreno”, fomentando uma cultura que valorize a experimentação, aceite o fracasso como parte do processo e promova a colaboração entre equipes multidisciplinares. 

É a partir desses três pilares fundamentais que é possível fazer com que as pessoas no entorno se engajem e topem embarcar em aventuras inovadoras. Que, para além de serem consideradas eventualidades em um primeiro momento, convertam-se em médio e longo prazos em verdadeiros projetos de inovação. 

Para tanto, a cultura de inovação será uma realidade em sua organização ao adotar os seguintes passos: 

  • Liderança inspiradora: para que todos possam entrar na onda da inovação, a liderança desempenha um papel fundamental na promoção de uma cultura de inovação. Para tanto, os líderes devem ser visionários, inspiradores e estar comprometidos com a experimentação e o aprendizado contínuo. 
  • Ambiente de confiança e respeito: além de uma liderança que valorize seu time, para expressar suas ideias os colaboradores devem se sentir seguros no ambiente. Dessa forma, conseguirão assumir riscos e aprender com os erros sem medo de receber críticas ou ser vulneráveis a punições. 
  • Estímulo à colaboração: promover a colaboração entre equipes de diferentes departamentos e áreas de especialização estimula a troca de ideias e perspectivas. Como resultado, a organização pode colher soluções mais criativas. 
  • Incentivo à experimentação e ao fracasso: na mesma medida, encorajar a experimentação é essencial para promover a inovação e fazer com que ela floresça. Mas, isso só acontece quando os funcionários se sentem livres para tentar novas abordagens — mesmo que isso signifique correr o risco de falhar — e aprender com essas experiências. 
  • Foco no cliente: além de todos os pontos anteriores, uma cultura de inovação precisa ser centrada no cliente, entendendo profundamente suas necessidades, desejos e desafios. Dessa forma, orienta-se todo o processo e desenvolvimento de produtos. 
  • Recompensas e reconhecimento: e não basta engajar o time sem conceder nada em troca. Portanto, reconhecer e recompensar as contribuições dos funcionários cria um ambiente no qual a criatividade e o pensamento são valorizados e incentivados. 
  • Flexibilidade organizacional: uma cultura de inovação requer uma estrutura organizacional flexível e ágil, permitindo a adaptação rápida a mudanças. 
  • Aprendizado contínuo: os funcionários devem ser encorajados a buscar conhecimento e desenvolver novas habilidades. Fazer isso mantém a empresa na vanguarda da inovação. 
  • Comunicação transparente: adotar uma comunicação aberta e transparente permite que as ideias sejam compartilhadas livremente e que todos os funcionários se sintam envolvidos no processo de inovação. 

Investimento em P&D 

Associado à cultura de inovação forte é válido, na mesma medida, destinar recursos substanciais para Pesquisa e Desenvolvimento, o famoso P&D. Para tanto, pode-se adotar uma abordagem de longo prazo nas iniciativas empreendidas. 

Parcerias e aquisições 

Outra forma de implementar a inovação radical nas organizações é sair em busca de colaborações externas e parcerias estratégicas, seguindo as premissas da inovação aberta. 

Uma medida útil nesse cenário é investir em parcerias ou até mesmo aquisições de startups que sejam apontadas por diversos players do mercado como exemplos da vanguarda da inovação. 

Boas práticas para manter a inovação radical viva nas organizações 

Em resumo, para que a inovação radical seja praticada e levada a sério por seus colaboradores, vale manter a mente aberta e apostar em boas práticas.  

Entre as principais, destaca-se o fato de estar aberto à mudança, questionando sempre que necessário o status quo e explorando novas ideias. Mesmo que, para tanto, a medida envolva o ato de assumir riscos. 

Já foi citado, mas não custa relembrar: outro fator que não pode ser perdido de vista é acolher as falhas. Dessa forma, é preciso encarar o que for considerado fracasso como oportunidade de aprendizado. Depois, é só ajustar o curso das iniciativas. 

Manter o foco nas necessidades e desejos dos clientes também gera impulso à inovação radical. Ao procurar constantemente maneiras de superar suas expectativas, você e seus liderados manterão a mente aberta e exposta a possíveis novas ideias. 

Não raro, a inovação radical geralmente é permeada por descobertas de novas tecnologias. Por isso, mantenha-se receptivo às tecnologias emergentes. Assim sendo, esteja atento às tendências e ao que for considerado disruptivo, desde que possam oferecer novas oportunidades de inovação. 

Conheça o Cubo Itaú 

O Cubo Itaú reúne centenas de startups curadas, que podem ajudar a alavancar a inovação em grandes corporações por meio de iniciativas de open innovation. Conheça os benefícios do Cubo para Corporates e faça parte de nossa comunidade! 

A imagem apresenta uma ilustração do Selo Cubo com os dizeres "Confira os benefícios do Cubo para corporações! Conferir agora". O tema do artigo é inovação radical.

Referências: 

Tesla. 

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Cubo

Somos o Cubo Itaú, uma comunidade que, desde 2015, conecta as melhores soluções para construir grandes cases de inovação para o mercado. Ao lado de nossos idealizadores, Itaú Unibanco e Redpoint eventures, e de um seleto time de startups e corporates, conquistamos o selo de um dos mais relevantes hubs de fomento ao empreendedorismo tecnológico do mundo.

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